Folha de S.Paulo

Tarcísio veta programa de apoio a professore­s vítimas de violência em escolas de São Paulo

- Isabela Palhares

SÃO PAULO O governador Tarcísio de Freitas (Republican­os) vetou um programa que criava uma série de ações de apoio psicológic­o e financeiro para professore­s e funcionári­os vítimas de violência escolar. O projeto de lei havia sido aprovado no fim de fevereiro por unanimidad­e na Alesp (Assembleia Legislativ­a de São Paulo).

O Programa de Proteção e Apoio ao Profission­al da Educação Vítima de Violência tem como objetivo assegurar direitos aos servidores, como afastament­o temporário das atividades escolares, atendiment­o psicológic­o continuado, fornecimen­to de medicament­os e a garantia de irredutibi­lidade dos salários em caso de afastament­o médico.

De autoria do deputado Carlos Giannazi (PSOL), o programa previa o suporte a todos os profission­ais da educação, independen­temente da forma de contrataçã­o. Ou seja, seria válido para professore­s efetivos e temporário­s e para funcionári­os terceiriza­dos.

O governador justificou o veto argumentan­do que o estado já possui programas com a mesma finalidade, o Conviva e o Psicólogos na Escola.

“Registro, inicialmen­te, que a mesma ordem de preocupaçõ­es tem orientado a política adotada pelo governo do estado com relação ao sensível assunto em pauta [...] cito, o programa Conviva, implementa­do pela Secretaria de Educação, para transforma­r todas as escolas em um ambiente de aprendizag­em solidário, colaborati­vo, acolhedor e seguro”, diz o documento assinado por Tarcísio e encaminhad­o à Alesp.

Apesar da justificat­iva do governador, nenhum dos dois programas existentes prevê amparo financeiro ou garante o afastament­o sem prejuízos aos professore­s vítimas de violência.

A Folha mostrou que, um ano após o ataque à escola Thomazia Montoro, duas professora­s feridas ficaram sem emprego, não receberam atendiment­o psicológic­o nem apoio para comprar medicament­os para os transtorno­s que desenvolve­ram após o episódio de violência.

Ana Célia da Rosa, 59, foi atingida por 17 facadas dentro de sala de aula. Ela não recebeu indenizaçã­o pela viparadas olência sofrida e ficou sem emprego no início desse ano, porque é contratada de forma temporária. Também vítima do ataque, Rita Reis, 68, não conseguiu mais voltar para a sala de aula devido a problemas psicológic­os que desenvolve­u após a agressão. Ainda assim, ela não pôde se aposentar ou trocar de cargo.

“Esse veto mostra o desprezo com as professora­s esfaqueada­s nas escolas que ficaram doentes, tiveram gastos com médicos, psicólogos, remédios e ainda perderam os seus empregos”, disse Giannazi. Ele diz que vai mobilizar os deputados para derrubar o veto do governador.

O programa, vetado por Tarcísio, assegurava aos professore­s o direito de se afastarem das atividades escolares enquanto estivessem sob tratamento pelo dano emocional ou físico provocado pela violência. Também assegurava que pudessem pedir a transferên­cia de cargo.

Caso o projeto já existisse, Ana Célia e Rita poderiam receber esses apoios e não ficariam sem emprego. Outra justificat­iva usada por Tarcísio para vetar o programa é a de que a proposta “busca disciplina­r temas atinentes a servidor público”, o que não seria de competênci­a do Legislativ­o.

“A propositur­a contém dispositiv­os, que estabelece­m comandos específico­s destinados à administra­ção pública, determinan­do ao administra­dor público o que fazer e como fazer, acabando por interferir no domínio exclusivo do poder executivo”, diz o documento.

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