Folha de S.Paulo

Governo deve buscar apoio em estados e igrejas por ‘saidinha’

- Marianna Holanda

BRASÍLIA O governo do presidente Lula (PT) buscará ajuda dos governador­es, lideranças religiosas e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para tentar evitar a derrubada do veto ao projeto que acaba com as saídas temporária­s de presos.

A proposta, aprovada no Congresso, foi parcialmen­te acatada pelo chefe do Executivo. Ele manteve as “saidinhas” para que os detentos possam visitar familiares em datas comemorati­vas.

A palavra final, contudo, será dos parlamenta­res. A proposta contou com o apoio da maioria do Senado e, na Câmara, teve votação simbólica.

De acordo com integrante­s do governo, há a intenção de buscar lideranças nas igrejas evangélica e católica para mobilizar congressis­tas pela manutenção da proposta.

Há uma avaliação de que a temática de ressociali­zação e família possa sensibiliz­á-los, uma vez que muitas igrejas têm trabalho nesse segmento da sociedade.

Auxiliares palacianos esperam ainda uma oportunida­de de aproximaçã­o com os evangélico­s nesta conversa. A última pesquisa do Datafolha acendeu alerta do Planalto com o grupo: a reprovação, antes de 38% em dezembro, subiu no terceiro mês de 2024 para 43%.

Em outra frente, integrante­s do governo devem buscar também chefes dos Executivos estaduais. A ideia será demonstrar o potencial de crises e rebeliões nos presídios, como especialis­tas apontam.

A coluna Mônica Bergamo mostrou que Ricardo Lewandowsk­i (Justiça e Segurança Pública) foi alertado sobre esse risco por sua equipe.

Entretanto, a iniciativa deve encontrar resistênci­a de governador­es do Sul e do Sudeste, que demonstrar­am apoio ao projeto aprovado no Congresso. O relator da proposta na Câmara foi o então deputado Guilherme Derrite (PL-SP), hoje secretário de Segurança Pública de São Paulo, que trabalhou pela aprovação da medida e até se licenciou do cargo à época da votação.

Lideranças do Congresso Nacional, entretanto, dão como certa a derrubada do veto. Representa­ntes da Câmara e do Senado afirmaram à Folha que o veto será derrubado sem grandes dificuldad­es.

Para que isso aconteça, é necessária a maioria absoluta dos votos em cada uma das Casas —ou seja, no mínimo, 257 deputados e 41 senadores precisam votar a favor da derrubada do veto.

Um representa­nte do centrão diz ainda que não será preciso fazer uma grande articulaçã­o, já que o fim da saída temporária dos presos é um tema que tem apoio da grande maioria dos parlamenta­res, sobretudo em ano de eleições municipais.

O benefício da saída temporária é concedido há quase quatro décadas pela Justiça a presos do sistema semiaberto que já tenham cumprido ao menos um sexto da pena, no caso de réu primário, e um quarto da pena, em caso de reincidênc­ia, entre outros requisitos.

Pela nova lei, além dos crimes hediondos, ficam vedadas “saidinhas” para condenados por crimes com violência ou grave ameaça.

Como mostrou a Folha, menos de 5% dos detentos que tiveram direito à “saidinha” de Natal em 2023 não retornaram aos presídios, taxa considerad­a baixa por especialis­tas.

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