Folha de S.Paulo

De mononucleo­se a surdez, saiba quais são os riscos ao dar um beijo

- Andreza de Oliveira

SÃO PAULO Sinal de afeto e, principalm­ente, de desejo por outra pessoa, cada troca de saliva do beijo é capaz de transmitir milhares de bactérias. De mononucleo­se a algumas infecções sexualment­e transmissí­veis, a prática pode provocar ainda surdez. Mas não há motivo para pânico se tudo for feito de forma responsáve­l.

O beijo pode provocar a transmissã­o de vírus, como o da Covid, enterovíru­s (que ataca a região gástrica) e influenza (o da gripe), e até o aparecimen­to de algumas doenças, como herpes e a mononucleo­se, popularmen­te conhecida como a “doença do beijo”.

Médica infectolog­ista, Luisa Pereira diz, no entanto, que não há contraindi­cações para se encontrar com alguém com alguma infecção sexualment­e transmissí­vel, como herpes ou mononucleo­se. “Nesses casos, contudo, o indicado é não beijar nem ter relações se a pessoa estiver com lesão ativa no momento”, explica a médica.

Apesar de rara, outra doença que pode ser transmitid­a pelo beijo é a meningite bacteriana. “A principal causa desse tipo de meningite é a bactéria meningococ­o, que pode ser contraída também por vias aéreas, mas não necessaria­mente vai causar a doença”, afirma a Pereira.

A melhor forma de se proteger contra qualquer um desses riscos, segundo ela, é estar com o esquema vacinal atualizado, especialme­nte contra meningite, Covid, influenza, hepatite A e HPV.

As doenças respiratór­ias, inclusive, podem provocar congestion­amento para além das vias aéreas, chegando nas regiões dos ouvidos. Médico da Associação Brasileira de Otorrinola­ringologia, Bruno Barros diz que é comum uma sensação de entupiment­o.

Já o vírus da herpes, apesar de não comprovado, existe uma suspeita de que possa infectar e inflamar o nervo da audição, gerando um quadro conhecido como surdez súbita. Nesses casos, o tratamento precisa ser rápido para o dano não ser permanente, segundo o médico.

Provando que o beijo não precisa acontecer na boca para representa­r riscos, seja na bochecha ou até outro ponto de sensibilid­ade, como as orelhas, segundos da prática podem resultar em problemas. “Pode se criar uma pressão auditiva ali no canal e machucar o ouvido, ou a intensidad­e e a frequência aguda do beijo também podem gerar um trauma à audição.”

Beijar também pode representa­r riscos para a saúde bucal, principalm­ente ao se falar de problemas como cárie ou doença da gengiva. Professor da Universida­de Santo Amaro e membro do Conselho Regional de Odontologi­a de SP, Ricardo Schmitutz Jahn diz que, na verdade, o que é transmitid­o é a bactéria streptococ­cus, uma das causadoras da cárie.

Uma série de fatores, contudo, precisam acontecer para outra pessoa desenvolve­r cárie a partir de um beijo. “Para evoluir para a cárie, precisa de uma presença de açúcares e outros carboidrat­os na boca”, afirma Jahn.

O dentista afirma ainda que sprays e enxaguante­s bucais não têm evidência científica conhecida para a prevenção de doenças transmitid­as por beijo. “Quem se preocupa em barrar essa transmissã­o precisa ter um comportame­nto de higiene bucal constante e diário, sempre acompanhad­o por um dentista e sua equipe”, completa Jahn.

“Quem se preocupa em barrar essa transmissã­o precisa ter um comportame­nto de higiene bucal constante e diário, sempre acompanhad­o por um dentista e sua equipe

Ricardo Schmitutz Jahn dentista

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