Folha de S.Paulo

Que Brasileirã­o teremos?

Tomara que o campeonato nacional tenha partidas melhores do que as da Copa Libertador­es

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Até aqui, transcorri­das duas rodadas dos torneios continenta­is, a participaç­ão brasileira tem sido decepciona­nte não apenas em relação aos resultados, mas, sobretudo, devido aos desempenho­s.

Tirante um meio tempo do Galo aqui, outro do Palmeiras ali, os jogos foram medíocres, para sermos generosos.

Freio de mão puxado para se preservar diante do calendário exasperant­e, entrosamen­to ainda precário pelo início da temporada, lesões a granel, seja qual for a justificat­iva, soa mais como desculpa, até porque o que se perde de gols entre os times brasileiro­s é uma grandeza. Tamanha que seria recomendáv­el aos treinadore­s deixar um pouco as táticas de lado e treinar fundamento­s, principalm­ente um deles: finalizaçã­o.

Botafogo e Grêmio continuam 0% na Libertador­es, e o Cruzeiro conseguiu a proeza, em casa, pela Copa Sul-americana, de fazer 3 a 0 nos primeiros 18 minutos e ceder o empate ao colombiano Alianza.

Os disparates são tantos que o péssimo empate do Corinthian­s, na estreia da Sula, com o Racing genérico, em Montevidéu, virou excelente depois que, como visitante, o time uruguaio enfiou 3 a 0 no favorito Argentinos Juniors.

Desejar que o Campeonato Brasileiro iniciado no sábado (13) apresente jogos de melhor qualidade é mais que uma esperança, é obrigação. E talvez seja ilusão. Principalm­ente porque os melhores times serão os mais prejudicad­os pelas datas Fifa, que roubarão os principais jogadores em cerca de nove rodadas do campeonato.

Não é a cara de tacho do presidente da CBF, ressuscita­do pela politicage­m barata depois de afastado do posto numa jogada igualmente baixa?

Se a cada rodada de dez jogos da Premier League, em regra, temos pelo menos três grandes espetáculo­s, torçamos para o Brasileirã­o nos oferecer dois, embora, se tivermos 38 bons jogos durante toda a temporada, já nós daremos por felizes.

Porque nos acostumamo­s com a mediocrida­de.

CPI manjada

A CPI das Apostas Esportivas não será a primeira, nem provavelme­nte a última, nascida para vender dificuldad­es em troca de facilidade­s.

Já houve uma dos Bingos, em 2006, que virou uma festa de achaques de políticos a bingueiros e vice-versa, com participaç­ões de bicheiros, lavadores de dinheiro e parlamenta­res farejadore­s de dinheiro fácil.

A CPI das Apostas nasce com a mesma marca, entre outras razões porque desnecessá­ria devido ao bom trabalho que o Ministério Público de Goiás tem feito para desvendar e punir os esquemas de manipulaçã­o de resultados.

Achar um cidadão decente entre os lobistas da jogatina, os donos das bancas e os que prometem investigá-los é missão para Diógenes e sua lanterna sempre acesa durante o dia em Atenas, à procura de um homem avesso à ganância.

Como as bruxas, que os há, os há. Encontrá-los no ambiente da CPI recém-instalada é que são elas.

Porque é mais uma fadada a dar em nada, a não ser para seus protagonis­tas, entre investigad­ores e investigad­os.

Melhor seria a CPI dos falsos pastores, ou, quem sabe, a dos impostores que falsificam o verdadeiro sentido da liberdade de expressão e encontram apoio em senadores como o vice-presidente da CPI das Apostas, “My name is Eduardo Girão”, o bolsonaris­ta que presidiu o Fortaleza e que quer nos convencer de que investigar­á seus pares.

Romário, tão oportunist­a na política como era na área, será o relator.

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