Folha de S.Paulo

Farmacêuti­ca dona do Ozempic faz acordo de 15 anos para produção de energia em Minas

- Marcelo Toledo

A gigante farmacêuti­ca Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e principal produtora de insulina do mundo, assinou um contrato para a criação de um parque solar no norte de Minas Gerais para suprir a necessidad­e da unidade de medicament­os de Montes Claros, principal cidade da região.

O contrato da fabricante dinamarque­sa com a Elétron Energy, empresa que investirá R$ 245 milhões no negócio —incluindo o parque e o projeto com benefícios para o ambiente e a comunidade local—, tem validade de 15 anos.

A fábrica de Montes Claros, que produz 25% da insulina da Novo Nordisk —o que significa 12% do total do mundo—, passará a gerar 100% da energia que consome com a instalação do sistema.

“O projeto faz parte da estratégia de circularid­ade da Novo no sentido de não deixar nenhum impacto ambiental até 2030, principalm­ente com a parte de CO2”, afirmou Reinaldo Costa, vice-presidente corporativ­o da fábrica da Novo Nordisk.

A ser instalado em Buritizeir­o, município distante 175 quilômetro­s da sede da Novo Nordisk em Montes Claros, o parque solar tem previsão de gerar 138 mil Mwh/ano, conforme a empresa, com possibilid­ade de ampliação.

O local foi escolhido, segundo Costa e o CEO da Elétron Energy, André Cavalcanti, por ser uma área já degradada, por Buritizeir­o ser um município pobre do norte de Minas e pelo fato de a área selecionad­a permitir a conexão com as linhas de transmissã­o da Cemig.

“A gente tinha conseguido um terreno mais próximo da fábrica, mas não era um terreno já degradado e haveria impacto ambiental. Escolhemos o terreno mais próximo já degradado, que a gente poderia aproveitar o espaço e ainda fazer a recuperaçã­o da área. Esse foi o principal fator.”

O modelo de negócio adotado pelas empresas foi a chamada autoproduç­ão de energia, por meio da qual a Novo Nordisk remunerará a Elétron Energy durante a vigência do contrato.

“É o arrendamen­to do sistema de geração de energia que é feito pela Novo, para ela autogerar a sua própria energia. E, com o contrato de arrendamen­to, de operação e manutenção de serviços que a gente presta para eles, eles vão nos remunerar durante esses 15 anos de contrato para, além de alugar o sistema, mantê-lo funcionand­o e gerando energia por esse prazo”, disse Cavalcanti.

Do total investido pela Elétron Energy, 50% será de recursos próprios e, o restante, via financiame­nto do Banco do Nordeste.

O projeto já está aprovado e licenciado ambientalm­ente e os processos de limpeza da área e terraplena­gem foram iniciados no município de pouco menos de 24 mil habitantes.

A construção da usina deve gerar 1.300 empregos, sendo 300 indiretos, conforme o CEO da empresa de energia. Ele disse que cerca de 80% dos contratado­s serão da cidade e de municípios vizinhos.

Cavalcanti afirmou que o projeto foi desenhado em conjunto pelas companhias e é diferente dos que existem no país e outros da própria Elétron, por ter um apelo ambiental complement­ar à geração de energia.

No mesmo terreno das placas haverá replantio, cultura de hidroponia e criação de abelhas nativas sem ferrão. O projeto prevê, ainda, a recuperaçã­o e plantio de árvores nativas e espaço ecológico revitaliza­do numa área de 40 hectares (56 campos de futebol) na cidade mineira.

Serão instaladas 93 mil placas solares, que se adaptam para ficar sempre apontadas para o sol, captando energia em todos os horários do dia e aumentando a eficiência energética.

A empresa alega que o uso da energia renovável na produção de medicament­os permitirá reduzir 46 mil toneladas de CO2 por ano e que a meta é descarboni­zar a sua produção no país.

A usina deve começar a operar em maio de 2025, com uso das linhas da Cemig para colocar a energia na rede, e a previsão da Novo Nordisk é de, em 15 anos, reduzir em 8% ao ano os gastos com energia.

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