Folha de S.Paulo

Educação antirracis­ta é fundamenta­l

- Ana Cristina Rosa

A inclusão da história e da cultura afro-brasileira nos currículos das escolas públicas e privadas do país é obrigatóri­a (Lei 10.639) há 21 anos. Uma das finalidade­s é desmistifi­car a construção social que resumiu os negros à condição de descendent­es de “escravos”.

Há 21 anos, a lei é desrespeit­ada. A maioria das instituiçõ­es limita-se a promover alguma atividade sobre o Dia da Consciênci­a Negra. Isso torna ineficaz uma iniciativa que poderia representa­r um enorme avanço do antirracis­mo num país onde o racismo é institucio­nal e foi naturaliza­do. De tal maneira que há séculos pretos e pardos se encontram em permanente desvantage­m.

O papel da escola é fundamenta­l para enfrentar o racismo. Pode inibir a reprodução de crenças preconceit­uosas e opressivas, e evitar situações como a que ocorreu num dos colégios mais caros de Brasília, o Galois, onde alunos de uma escola franciscan­a foram hostilizad­os com gritos de “macaco”, “pobrinho” e “filho de empregada”.

Dependendo das circunstân­cias, entendo que o conceito de pobreza pode ser relativiza­do. “Pobrinho” é aquele que vê demérito em quem não é rico, que menospreza “filho de empregada” e entende a humanidade como privilégio branco ao chamar uma pessoa negra de “macaco”.

Fico me perguntand­o o que o Galois está fazendo (além de “investigar internamen­te” e “lamentar” o comportame­nto de seus alunos) para prevenir casos de discrimina­ção. O que pratica em termos de educação antirracis­ta?

Alguém perguntou aos estudantes a respeito das razões além da genética que levam um jovem a ser franzino? Será que disseram aos “bem-nascidos” que pobreza não é defeito, mas a miséria impede o desenvolvi­mento de um corpo ‘sarado’ à base de orientação nutriciona­l, whey protein e personal trainer?

Assim como dinheiro não garante civilidade, o racismo não irá se desconstru­ir sozinho. E o convívio e o respeito às diferenças precisam ser ensinados também na escola.

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