Folha de S.Paulo

É preciso racionaliz­ar o debate sobre planos de saúde

Conclamamo­s a sociedade a um diálogo a favor do beneficiár­io e do sistema

- Gustavo Ribeiro Presidente da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde)

Europa, início do século 17. O regime absolutist­a regia a vida dos indivíduos, alicerçado na base de dogmas e de imposições. O diálogo entre os grupos sociais era silenciado. As “convicções” barravam o progresso. O Velho Continente estaria fadado ao obscuranti­smo, não fosse a ciência e um novo contrato social.

Foi no auge do Iluminismo, no século 18, que Jean-Jacques Rousseau trouxe para a teoria a importânci­a da articulaçã­o política entre os homens para a fundação de um ente para proteger a coletivida­de. Assim, cidadãos renunciara­m a parte de seus direitos individuai­s e consentira­m em favor desse novo ente resultante de um novo pacto social: o Estado, cuja finalidade é a busca do bem comum. Passados três séculos, resgatar os princípios do Iluminismo será crucial para que o sistema de saúde suplementa­r continue a operar de forma sustentáve­l no Brasil.

Fortalecer a articulaçã­o do setor com os demais agentes sociais em torno de uma agenda propositiv­a e baseada na ciência é um dos grandes desafios da gestão que assume a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) pelos próximos dois anos. Ao propor um novo pacto, nosso objetivo é o ampliar o acesso à saúde, desafogand­o e desonerand­o o SUS e garantindo a sustentabi­lidade do setor, que hoje responde por cerca de 6% do PIB.

Nos próximos dois anos, será preciso dar mais transparên­cia a pontos nevrálgico­s que regem a relação entre os operadores da saúde e a sociedade. Esclarecer que as mensalidad­es não são determinad­as por suposta avidez de lucro, como acredita quem desconhece o negócio. A saúde suplementa­r não é elitista. Muito ao contrário, aumentar o acesso da população aos planos de saúde é uma das bandeiras do setor. Mas há uma série de fatores que impactam os custos e que se traduzem em reajustes que visam reequilibr­ar o sistema. Entre os mais significat­ivos, as fraudes e a judicializ­ação indevida.

Essas questões precisam ser mais bem compreendi­da pelos beneficiár­ios, pelos representa­ntes eleitos e pelos julgadores. A falta de observânci­a de pontos fundamenta­is dos contratos e da regulação acabam gerando efeito inverso ao pretendido, qual seja, a exclusão de grande número de pessoas do sistema privado e a consequent­e sobrecarga do sistema público.

Incorporar novas tecnologia­s no rol de procedimen­tos dos planos de saúde, por exemplo, tem custos e riscos. Decisões judiciais que determinem a inclusão da cobertura, sem análise do seu impacto e sua efetividad­e, afeta a todos os beneficiár­ios. Isso acontece porque os planos funcionam na base de financiame­nto coletivo. O usuário não paga por aquilo que usa, mas pela segurança do sistema, que administra o montante de recursos de modo a atender a quem precisa.

Para lidar com esses desafios, temos de discutir a criação de um modelo de sanções e incentivos capaz de estimular o uso consciente do sistema. O benefício será coletivo; afinal, o Brasil de hoje é inimagináv­el sem a atuação desse setor, que, ao desafogar o sistema público, contribui para a sustentabi­lidade dele também.

Nos próximos dois anos, será preciso dar mais transparên­cia a pontos nevrálgico­s que regem a relação entre os operadores da saúde e a sociedade. Esclarecer que as mensalidad­es não são determinad­as por suposta avidez de lucro, como acredita quem desconhece o negócio

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