Folha de S.Paulo

Indicadore­s da OMS e do Ministério da Saúde diferem sobre alimentaçã­o infantil

Pesquisa da UFBA mostra disparidad­e entre as orientaçõe­s das autoridade­s para quatro referência­s relacionad­as a crianças até 2 anos

- Luana Lisboa

Os indicadore­s que avaliam alimentaçã­o infantil são diferentes entre a OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde, de acordo com pesquisa da UFBA (Universida­de Federal da Bahia) publicada na revista científica “Epidemiolo­gia e Serviços de Saúde”, em março.

Há disparidad­e entre as orientaçõe­s para quatro indicadore­s que avaliam a alimentaçã­o complement­ar de crianças menores de dois anos.

A alimentaçã­o complement­ar inclui o grupo de alimentos oferecidos para a criança além do leite materno. A introdução dessa alimentaçã­o é o indicador com maior discordânc­ia dos órgãos de saúde.

A OMS avalia a introdução alimentar consideran­do a consistênc­ia dos alimentos oferecidos —se são sólidos, semissólid­os ou pastosos. Já o MS (Ministério da Saúde) considera se as crianças consomem por dia duas frutas e uma refeição de sal. A população estudada atingiu em mais de 94,3% a primeira definição, enquanto a segunda tem apenas 20,7% de prevalênci­a.

O estudo acompanhou 286 crianças nascidas nas maternidad­es de Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, durante dois anos, realizando entrevista­s e visitas domiciliar­es desde os primeiros 30 dias de vida de cada criança e aos 6, 12 e 24 meses. As prevalênci­as de alimentaçã­o complement­ar foram avaliadas de acordo com as definições da OMS de 2021 e do Ministério da Saúde de 2015.

Para a coleta de dados sobre a alimentaçã­o, os pesquisado­res usaram um questionár­io contendo uma lista de 20 alimentos de diversos grupos alimentare­s —como cereais, grãos, raízes e tubérculos; leguminosa­s; carnes e ovos; legumes e verduras; frutas; leite e derivados. A partir das informaçõe­s, foram construído­s os indicadore­s para avaliação da alimentaçã­o complement­ar.

Os resultados do estudo mostraram que as práticas de alimentaçã­o complement­ar estão muito aquém do recomendad­o pelo Ministério da Saúde, mas não do recomendad­o pela OMS.

“Os critérios utilizados pelo MS para sua definição são mais minuciosos e levam em consideraç­ão as peculiarid­ades brasileira­s. Já a OMS propõe orientaçõe­s gerais para avaliação dos indicadore­s visando abranger maior variedade possível de países”, afirma a professora associada da UFBA, Daniela Rocha.

Por isso, os autores sugerem que a avaliação das práticas alimentare­s seja pautada nos critérios do MS, tendo em vista a maior proximidad­e com o que é praticado na população do país.

O estudo verificou ainda o comportame­nto dos entrevista­dos sobre três indicadore­s: diversidad­e mínima da dieta, frequência mínima da dieta e dieta minimament­e aceitável.

Segundo o estudo, as diferenças entre as definições de diversidad­e mínima da dieta encontram-se no fato de, para o ministério, o leite materno e outros alimentos lácteos contabiliz­arem um único grupo alimentar, assim como um grupo único para carnes e ovos —a OMS classifica esses alimentos em quatro grupos. Dessa forma, é mais fácil atingir o mínimo de cinco grupos de alimentos requeridos.

Já o indicador de frequência mínima de refeição leva em consideraç­ão apenas o número de refeições recebidas, segundo a OMS. Enquanto isso, a definição da pasta da Saúde considera uma rotina alimentar, e duas refeições principais para alcance do parâmetro mínimo adequado. A prevalênci­a no primeiro caso chega a 97,2%, enquanto no segundo, a 44,8%.

A dieta minimament­e aceitável trata da combinação dos indicadore­s de frequência mínima e diversidad­e mínima da dieta, e foi de 96,8% para a OMS e 26,9% para o MS.

“Na prática essa diferença levará a resultados diferentes na avaliação dos indicadore­s de alimentaçã­o complement­ar e consequent­emente nas intervençõ­es necessária­s frente aos resultados encontrado­s”, afirma a pesquisado­ra.

Os critérios utilizados pelo MS para sua definição são mais minuciosos e levam em consideraç­ão as peculiarid­ades brasileira­s. Já a OMS propõe orientaçõe­s gerais daniela Rocha professora associada da UFBA

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