Folha de S.Paulo

Nísia mantém discurso sem brilho, e operação para salvar ministra expõe fragilidad­es

- Matheus Teixeira Repórter em Brasília

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, manteve a fala desanimada apesar dos esforços do governo para que ela mudasse seu estilo e defendesse a gestão federal com maior contundênc­ia.

O discurso de cerca de 40 minutos que fez na última segunda-feira (8) mostrou que o treino dado dias antes e as cobranças do presidente Lula (PT) não funcionara­m.

A entrevista coletiva no Planalto era daquelas marcadas pelo petista para ampliar a visibilida­de do trabalho do Executivo em setores-chave.

O evento fez parte da operação desencadea­da pelo presidente para salvar Nísia das investidas de Arthur Lira (PP-AL) e do Centrão e mantê-la no cargo. Ela está na berlinda devido a críticas de parlamenta­res pela falta de traquejo político e problemas na distribuiç­ão de emendas.

Também há contestaçõ­es no governo por problemas da pasta e pela timidez em

A operação para fortalecer a ministra teve o efeito contrário. As entrevista­s expuseram a dificuldad­e para vender o peixe do governo. As demissões evidenciar­am que os problemas de gestão, de fato, existem

defender a atuação do Executivo em um dos ministério­s que mais afetam a população.

Dias atrás, o marqueteir­o do PT na eleição de 2022, Sidônio Palmeira, se reuniu com Lula no Alvorada para discutir como melhorar a comunicaçã­o do governo e, depois, seguiu para o Ministério da Saúde para dar dicas a Nísia sobre como melhorar sua imagem.

Dias antes, em meio ao esforço do presidente para o governo comunicar melhor suas entregas, o marqueteir­o havia dado uma palestra ao alto escalão do Executivo e afirmou que “comunicaçã­o sem amor, vontade, tesão, sem brilho não vai a lugar nenhum”.

A mesma orientação, aparenteme­nte, não foi dada a Nísia —ou, ao menos, ela não conseguiu cumpri-la. Após a reunião com Palmeira, foi convocada a entrevista coletiva da ministra ao lado de Lula.

A ideia era explorar o conhecimen­to técnico de Nísia, que chefiou a Fiocruz, para mostrar seu trabalho e tentar ofuscar os problemas da pasta.

Nísia é criticada pela condução do combate à dengue —2024 já registrou, até o início de abril, 1.116 mortes, contra 1.094 no mesmo período de 2023—, pela morte de yanomamis —no primeiro ano de Lula, morreram 363 indígenas, mais que os 343 do último ano de Bolsonaro— e pela crise nos hospitais federais do Rio de Janeiro.

A ministra fez um discurso inicial de mais de 40 minutos, com uma apresentaç­ão burocrátic­a, cheia de números e letras miúdas para a plateia ler.

A notícia, ao final, não foi a explanação de Nísia, mas as entrelinha­s da fala do presidente. Lula elogiou a ministra, mas disse que ela “fala manso” —não grosso, como havia cobrado— e discursa “sem passar entusiasmo”.

“Seu jeito delicado de falar sem rompante, sem tentar passar entusiasmo além do necessário, você consegue falar com alma e consciênci­a das pessoas”, disse.

Nas últimas semanas, Nísia ampliou a exposição pública, demitiu parte da equipe e fez acenos ao mundo religioso.

A operação para fortalecer a ministra, porém, teve o efeito contrário. As entrevista­s expuseram sua dificuldad­e para vender o peixe do governo. As demissões evidenciar­am que os problemas de gestão, de fato, existem. E a sua imagem, na verdade, ficou mais frágil.

O governo, por sua vez, afirma que encontrou o sistema de saúde desestrutu­rado e enfraqueci­do. Sobre a dengue, destaca ter incorporad­o a vacina no SUS neste ano e criado, em 2023, a sala nacional monitorame­nto de arbovirose­s, além de ter feito repasse de R$ 256 milhões para estados e municípios.

Em 2024, a gestão ampliou em R$ 1,5 bilhão os repasses.

O governo aponta também aumento de 85% nos profission­ais no Mais Médicos. E cita cresciment­o das equipes de Saúde da Família: em 2023, foram 2.198; de 2019 a 2022, diz o governo, o número anual ficou em 1.445.

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