SPFW tenta equilibrar gênero e tom comercial
Com maioria dos desfiles em shoppings, semana de moda teve 13 estilistas mulheres e destacou microtops e hot pants
são paulo As mulheres estão pela São Paulo Fashion Week. São modelos, maquiadoras, cabeleireiras, costureiras, jornalistas. Isso pode levar a crer que o ambiente não sofre da falta de representatividade feminina, mas como diretoras criativas de marcas elas são minoria.
Essa barreira aos poucos vem sendo superada. Se na temporada passada da SPFW, dentre as 38 grifes que desfilaram, 13 eram comandadas por elas, nesta edição a discrepância diminuiu. Dos 31 estilistas, 13 eram mulheres — sendo apenas uma delas negra— e ao menos duas pessoas se declararam não binárias.
A 57ª SPFW, que se encerrou neste domingo, teve ainda sete estilistas negros e um indígena. A maior diversidade de mentes criativas por trás das marcas também se refletiu na passarela —sendo na composição do casting ou na proposição de looks que atendem públicos mais plurais.
A tendência de estilistas não brancos privilegiarem modelos também não brancos é evidente. Assim como designers mulheres que compõem castings de corpos diversos e de variadas faixas etárias.
Foi o caso da grife estreante na SPFW, a Reptilia, que levou um grupo de modelos de diferentes idades. As mulheres de 40 anos ou mais desfilaram uma coleção inspirada na arquitetura, campo de formação da estilista Heloisa Strobel.
“A nossa primeira grande musa foi Zuzu Angel. Ela quebrou essa barreira de que a mulher só podia ser costureira”, disse Isa Isaac Silva, criadora da marca homônima, logo após o desfile da Reptilia.
Outro destaque foi a grife Weider Silveiro. Com um casting todo não branco, a marca fez um resgate ancestral na passarela. O designer piauiense se inspirou em seu trabalho de conclusão de curso, apresentado há cerca de 20 anos, para desfilar uma coleção que enaltece os ornamentos tradicionais africanos.
Já Cíntia Felix, única criadora negra da edição, por trás da AZ Marias, trouxe uma coleção guiada pelo ar. Antes, a etiqueta já havia passado pela terra, pelo fogo e pela água.
Inspirada no conto das borboletas de Oyá —orixá dos ventos—, a estilista apresentou 25 looks divididos entre os temas brisa, nuvem e fumaça, buscando homenagear a maternidade negra.
Quem também apresentou uma seleção de modelos etnicamente diversa foi a veterana Glória Coelho, que voltou à SPFW para celebrar os 50 anos de história. A estilista, que em 2020 se posicionou contra as cotas para modelos no evento e foi acusada de racismo, mudou o tom nesta edição.
“Nos preocupamos com o casting porque temos que representar todo tipo de pessoa, baixinhas, altas, mais cheinhas, afros, orientais.” A marca, no entanto, não levou nenhuma modelo gorda à passarela.
Outras marcas comandadas por mulheres que passaram por esta edição da semana de moda foram a Aluf, Amapô, Catarina Mina, Fauve, Forca, Marina Bitu, Lilly Sarti, Patricia Vieira e Renata Buzzo.
Chamaram a atenção as locações escolhidas para os desfiles, que se concentraram nos shoppings JK Iguatemi e Iguatemi —o que pode parecer apropriado ao evento, não fossem os convidados terem de atravessar a praça de alimentação com seus looks espalhafatosos para assistir aos desfiles.
Se antes a semana de moda era conhecida por ter como cenário o elegante Pavilhão da Bienal ou até o alternativo Komplexo Templo, nesta ediçãooeventoseconcentrouem ambientes por onde passam seus consumidores. A mudança faz pensar se a SPFW perdeu um pouco do seu caráter artístico para ser mais comercial.
Salvo algumas exceções — AZ Marias se apresentou no Teatro Oficina, Glória Coelho, na galeria Nara Roesler, Amapô, no Love Cabaret, e João Pimenta, no edifício Martinelli.
Entre as principais tendências para a próxima estação apresentadas ficaram o preto, o branco e o cinza, além de verde, amarelo, laranja e marrom em seus tons mais terrosos.
A alfaiataria também foi a grande estrela na maior parte dos desfiles. Duas peças para ficar de olho são os microtops, que tampam apenas as aréolas dos seios —das coleções de André Lima, Forca, Weider Silveiro e Glória Coelho—, e as hot pants ou calcinhas, que dispensam calças, tendência capitaneada pela grife italiana Miu Miu.