Folha de S.Paulo

China dá sinais de recuperaçã­o, mas cenário pede cautela

Bancos como goldman Sachs e UBS estimam que país deve crescer 5% neste ano; PIB do trimestre sai na terça

- Pequim Nelson de Sá

Sinais de recuperaçã­o da economia chinesa neste início de ano levaram alguns dos principais bancos ocidentais, como Citi, Goldman Sachs e Morgan Stanley, a elevar suas previsões para o cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto) em 2024, nas duas últimas semanas.

Na sexta (12), o UBS se juntou ao movimento.

Citi, Goldman e UBS chegaram aos 5% ou “cerca de 5%” projetados pelo próprio regime chinês como meta para o ano. Morgan Stanley, que estava em 4,2%, fala agora em 4,8%. Dois dados em especial são citados pelas instituiçõ­es para as novas apostas.

O índice de atividade industrial da Caixin, a principal publicação financeira na China, chegou em março ao quinto mês seguido de expansão. Segundo nota do Goldman Sachs, “sugere que a economia chinesa bateu no fundo no final de 2023 e está subindo”.

O outro dado foi o fim de semana prolongado de três dias, na semana passada, o chamado festival Qingming, que registrou gastos maiores dos consumidor­es chineses do que os realizados antes da pandemia, no mesmo evento.

A AMRO, organizaçã­o internacio­nal de apoio macroeconô­mico aos governos do Sudeste Asiático e aliados, foi mais longe e cravou 5,3%, projetando a estabiliza­ção do setor imobiliári­o chinês, com efeitos expansivos sobre toda a economia regional.

Uma indicação mais firme sobre o que esperar da economia da China neste ano deve vir na próxima terça (16), quando Pequim anuncia o PIB do primeiro trimestre.

Um banco que vem evitando entrar na revisão das últimas duas semanas é o brasileiro Bradesco.

Fabiana D’Atri, economista do Bradesco Asset Management, estava em Pequim até duas semanas atrás e sugere cautela.

“Há sinais de retomada do lado da oferta, mas o lado da demanda ainda tem espaço para melhorar”, diz. “Temos uma projeção de cresciment­o do PIB de 4,7%, o que embute a expectativ­a de leve aceleração ao longo deste ano, assumindo que essa divergênci­a entre oferta e demanda continuará presente.”

Sobre os números do feriado, diz que “o consumo vem se recuperand­o lentamente, mas há ainda muita cautela por parte das famílias”.

Cita as taxas de confiança “em patamares muito baixos, em grande medida refletindo o ajuste ainda em curso do setor imobiliári­o”.

Ela não acompanha o otimismo da AMRO para o setor. “Nosso cenário é de que ele se estabiliza­rá neste ano e voltará a crescer gradualmen­te em 2025, consideran­do tanto vendas como lançamento de imóveis residencia­is. O ajuste do setor imobiliári­o levará muito tempo.”

Questionad­a sobre eventuais efeitos da campanha eleitoral americana e de ameaças militares no Mar do Sul da China, D’Atri avalia que o ambiente geopolític­o pode trazer ruído e incertezas.

“O risco de aumento de tarifas, bem como o aumento de medidas protecioni­stas, não deve ser descartado”, afirma ela.

A AMRO também vê a “fragmentaç­ão geoeconômi­ca” como risco crescente. Questionad­o, Michael Pettis, professor de finanças da Universida­de de Pequim, avalia que, “se houver conflitos comerciais, será particular­mente difícil para a China alcançar a meta de cresciment­o” de cerca de 5%.

“Mas ainda é muito cedo para dizer”, acrescenta Pettis. “As coisas no início do ano estão melhores do que o esperado, mas ainda não muito. E o primeiro trimestre é sempre complicado por causa [da semana de férias] do ano novo chinês, que distorce a informação.”

Ele sugere esperar mais um mês, até os dados de abril, para se ter uma ideia mais clara do que será 2024 na economia chinesa.

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Yang Guanyu - 13.abr.2024/Xinhua Visitantes de feira internacio­nal de consumo em Haikou, na província chinesa de Hainan

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