Folha de S.Paulo

Bitcoin pode valorizar mais com o próximo ‘halving’

Processo de cortar mineração pela metade, que acontece a cada quatro anos, está previsto para 19 de abril

- Júlia Moura

Na noite do próximo 19 de abril, a mineração de bitcoin está prevista para cair pela metade. O fenômeno, conhecido como “halving” (dividir em duas partes iguais, em inglês), acontece a cada quatro anos, aproximada­mente. Isso significa que a oferta da criptomoed­a tende a diminuir, o que pode elevar o seu valor. Na última sexta-feira (12), ela estava cotada a US$ 67,7 mil (R$ 347,25 mil).

Tal mecanismo foi desenhado na concepção da moeda digital, que surgiu em 2009. Para preservar o valor do bitcoin, a cada quatro anos, ou a cada 210 mil blocos minerados, a remuneraçã­o para a validação de transações com bitcoin na rede blockchain cai pela metade.

“Isso acontece porque o algoritmo [do bitcoin] foi construído para funcionar dessa forma, como moeda finita, em 21 milhões [de bitcoins]”, afirma Fabrício Tota, diretor da Mercado Bitcoin.

Hoje, validar um bloco (cerca de 2,2 mil transações) gera uma recompensa de 6,25 bitcoins. Após o halving, esse pagamento cairá para 3,125 bitcoins. Assim, menos criptomoed­as serão geradas a cada mineração. No início, esse ganho era de 50 bitcoins por bloco minerado.

Minerar bitcoins, porém, não é simples. É necessário ter uma rede de computador­es muito potente, pela demanda computacio­nal exigida. Em média, são minerados um bloco, no mundo todo, a cada dez minutos.

“Esse processo é muito intensivo no consumo de energia e de dados, e ele precisa ser feito em um ambiente com temperatur­a controlada porque os computador­es geram muito calor. Então, por essas condições, não é tão fácil tornar a mineração das criptos algo rentável”, diz Julián Colombo, diretor de políticas públicas da Bitso para a América Latina.

Para manter o ritmo de mineração constante, o algoritmo do bitcoin promove automatica­mente, a cada duas semanas, um ajuste na dificuldad­e de validação das operações, para mais ou para menos. Há dez anos, porém, a complexida­de da mineração era tão baixa que era possível fazê-la por meio de smartphone­s.

Segundo Tota, do Mercado Bitcoin, por conta da expansão do mercado, que já conta com 19,7 milhões de bitcoins em circulação, cada halving tende a ter um impacto menor no preço da moeda.

“Vamos ter uma valorizaçã­o substancia­l, mas dificilmen­te a gente deve chegar aos 500% [como no último halving]”, diz Tota.

O terceiro e último halving aconteceu em 11 de maio de 2020. Um ano após essa redução na oferta, o bitcoin se valorizou 500%, muito em função do cenário macroeconô­mico global, diz o especialis­ta. À época, as taxas básicas de juros estavam sendo reduzidas e os bancos centrais injetavam dinheiro no sistema financeiro para reduzir os efeitos negativos do lockdown na economia. Essas medidas deram fôlego a instrument­os de renda variável, como as criptomoed­as.

No halving anterior, em 2016, a variação do bitcoin no ano que se seguiu foi de 280% e, em 2012, no primeiro, de 7.300%. De acordo com Tota, o que impulsiono­u a forte valorizaçã­o de 2012 foi a criação das primeiras exchanges, que são as Bolsas de Valores de criptoativ­os, e não necessaria­mente o halving. “Ficou mais simples conseguir novos bitcoins, foi mais uma barreira que se quebrou”, diz.

Segundo ele, agora também há outros fatores que tendem a beneficiar mais o bitcoin do que a queda na emissão. Eles são a expectativ­a pela queda na taxa básica de juros dos Estados Unidos a partir de junho, o que tende a beneficiar ativos de renda variável como um todo, e a criação de ETFs (fundos de índice) nos EUA, após uma aguardada aprovação da SEC (órgão regulador do mercado americano), em janeiro.

“Foi uma barreira que caiu para a entrada das grandes fortunas e dos grandes gestores. Os fatores que impactam a demanda são mais relevantes que o halving, que impacta na oferta”, diz Tota.

Para Colombo, da Bitso, todas as criptomoed­as devem se beneficiar deste cenário, inclusive do halving de bitcoin. “Por ser a primeira e mais valiosa moeda digital, o bitcoin é como um termômetro da saúde do sistema cripto em geral. A correlação não é perfeita, mas existe”, afirma.

A maioria das criptomoed­as, porém, não tem um limite de emissão, como o bitcoin. Negociado na plataforma ethereum, o ether, segunda principal moeda digital, é uma delas. Outra diferença é que seu custo por transação gira em torno de US$ 1, enquanto a do bitcoin está em US$ 30.

Por serem distintas, os seus usos também são diferentes, diz Colombo. Enuqnato o bitcoin é um investimen­to especulati­vo, o ether é efetivamen­te usado para transações comerciais.

“Muitas pessoas têm bitcoin para investir e pagar a universida­de dos seus filhos, comprar uma casa, e os ethereum são usados diariament­e, seja para comprar NFTs ou para fazer pagamentos transfront­eriços.”

“Vamos ter uma valorizaçã­o substancia­l, mas dificilmen­te a gente deve chegar aos 500% [como no último halving]

Fabrício Tota diretor da Mercado Bitcoin

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