Folha de S.Paulo

Resultados operaciona­is melhoram; endividame­nto piora

- São Paulo

Embora as companhias abertas tenham entregado números operaciona­is melhores no ano passado, o endividame­nto piorou na comparação com 2022, mostram resultados de 2023 divulgados pelas companhias não financeira­s listadas na Bolsa.

Segundo levantamen­to da Elos Ayta Consultori­a, a dívida bruta cresceu 7,94% ante o ano anterior, enquanto a dívida líquida avançou 7,68%, ambos acima da inflação, que fechou 2023 a 4,62%.

O estudo, que excluiu os resultados de Petrobras, Vale, JBS, Suzano e Oi para evitar distorções, mostra ainda que o ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) em 2023 foi de 11,40%, uma queda de 0,75 ponto percentual em relação a 2022. O resultado reflete os desafios enfrentado­s pelas empresas no ambiente macroeconô­mico.

No lado operaciona­l, por outro lado, as companhias listadas entregaram resultados melhores. O lucro bruto, por exemplo, cresceu 6,78% ante o ano anterior. Segundo o estudo, o dado é fruto do baixo cresciment­o do custo dos produtos vendidos.

“Esse resultado indica um aumento da eficiência na produção e um esforço bem-sucedido para a redução de custos”, diz em relatório Einar Rivero, sócio da Elos Ayta e responsáve­l pelo levantamen­to.

Além disso, o lucro antes de despesas financeira­s, o Ebit (sigla em inglês para “lucros antes de juros e impostos”), cresceu 7,94% em 2023, mesmo com o aumento de 5,6% nas despesas operaciona­is. O dado “foi impulsiona­do pelo cresciment­o significat­ivo do resultado financeiro, que teve um aumento de 18,71% no ano”, diz o relatório.

Ainda assim, o lucro líquido das companhias, que deduz todas as despesas e custos, teve um baixo cresciment­o de 1,98% em 2023, abaixo da inflação, o que significa que houve uma diminuição nesse quesito em termos reais.

“De maneira geral, as empresas conseguira­m ter um ano operaciona­l melhor, mas o cenário de juros ainda em nível elevado e a alavancage­m alta [uso de mais dinheiro do que a empresa tem disponível] compromete­ram o fluxo de caixa”, diz o professor Joelson Sampaio, EESP-FGV.

Além dos juros altos, o gestor Fernando Siqueira, da Guide Investimen­tos, diz que alguns setores fortes da Bolsa foram afetados por eventos específico­s no ano passado.

Ele cita exportador­as de commoditie­s, como petroleira­s, mineradora­s e siderúrgic­as e companhias de papel e celulose, que tiveram seus resultados afetados pela queda nos preços dos insumos.

Siqueira também observa que a forte depreciaçã­o cambial na Argentina ante o dólar prejudicou companhias com forte exposição ao país vizinho e que são grandes na Bolsa, como é o caso da Ambev. O gestor acredita que, neste ano, esses fatores não devem se repetir.

O professor Joelson Sampaio acrescenta que 2024 tende a ser melhor que o ano passado por causa da expansão do crédito para consumo, que é benéfico para setores que sofreram forte pressão nos últimos dois anos, como o varejo e a indústria.

Stéfanie Rigamonti

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