São Paulo tem só 5 distritos sem epidemia de dengue
SÃO PAULO Apesar da alta transmissão de dengue na cidade de São Paulo, a doença ainda não alcançou níveis epidêmicos em cinco distritos: República (centro); Jardim Paulista (oeste); Moema, Saúde e Vila Mariana (sudeste). É o que mostra o boletim epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde desta segunda-feira (15).
Nestes locais, a incidência de dengue é média. Moema tem a mais baixa —200,5 casos por 100 mil habitantes. Em seguida, aparecem Jardim Paulista (213,8), Saúde (241,4), Vila Mariana (250,7) e República (276,5).
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde, considera-se epidemia quando o coeficiente de incidência ultrapassa a casa de 300 casos por 100 mil habitantes.
Paulo Abrão, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que a dengue é uma “doença de pessoas carentes, com baixa condição de moradia e de vida, e que dependem de um urbanismo bem feito”.
“Se você tiver áreas com vegetação, terrenos baldios, locais propícios para criadouro do mosquito em momentos de calor e chuva, aí tem dengue. Se você tiver áreas urbanizadas corretamente, com população morando adequadamente, sem essas condições para criadouros de mosquito, você não tem [alta incidência]. Agora, tem mais uma coisa, é claro que isso é uma bola de neve. Quanto mais casos há numa região, mais terá, porque o mosquito pica, infecta e pica outra pessoa”, diz Abrão.
Para Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, quando o assunto é arbovirose muitas variáveis devem ser consideradas.
O tipo de habitação —se há mais casas ou apartamentos no distrito— também é um dado importante. “Será que, por exemplo, Moema e República não têm um nível de apartamentos maior do que Saúde? É possível que você tenha uma parte da explicação nisso. De ter mais apartamentos em relação a casas, que talvez tenha um quintal que tem mais possibilidade de criadouros de mosquitos —maior do que quando você tem um apartamento, por exemplo”, diz Granato.
O infectologista também colocou como possibilidades a pluviosidade, porque chove mais em alguns bairros do que em outros, e o entendimento sobre a importância de evitar os criadouros do mosquito.
Ao observar a capital paulista como um todo, a incidência de dengue alcançou 1.215,5 casos por 100 mil. Desde 1º de janeiro, foram contabilizados 145.926 casos e 49 mortos pela dengue. Os dados do boletim são provisórios, e foram contabilizados e analisados até 10 de abril. No dia 18 de março, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) decretou emergência em saúde por dengue.
“O importante é não baixar a guarda. Precisamos manter as medidas de prevenção. Eliminar os criadouros, dar atenção aos domicílios, usar repelente ao máximo possível, se cuidar e cuidar das pessoas que estão à sua volta. Isso é muito importante. Olhar os terrenos baldios, vazios, caixas de água, piscina, notificar os casos”, finaliza Abrão.
Em 2023, especialistas já anunciavam que neste ano o país viveria uma epidemia de dengue. Na opinião de Celso Granato, a alta de casos começou mais cedo.
“Adiantou em um mês. Agora, será que a gente vai terminar antes por causa disso ou o ciclo será maior? Nunca aconteceu um ciclo tão longo assim. Isso a gente não sabe. Os modelos matemáticos mostram que no final de abril já deve ter uma diminuição. Modelo matemático é uma coisa interessante, muito importante, mas a natureza nem sempre segue”.
Patrícia Pasquini