Folha de S.Paulo

Lewandowsk­i nega crise entre Poderes e defende ‘SUS da Segurança’

- Joelmir Tavares

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowsk­i, minimizou nesta segunda (22) os atritos entre Poderes e defendeu mudanças legais para dar mais poder ao governo federal nas políticas de segurança, com a incorporaç­ão na Constituiç­ão de um sistema unificado de combate ao crime.

“De vez em quando se diz que há crise entre os Poderes. Não me parece que haja crise”, disse durante seminário na capital paulista promovido pelo grupo Esfera. Ele, que é ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), disse ainda não ver “nenhuma deficiênci­a institucio­nal” no Brasil.

“O Congresso legisla, o Executivo eventualme­nte impõe alguma sanção, que pode ser derrubada pelo Congresso Nacional, isso tudo dentro da Constituiç­ão. Da mesma forma, não há crise, penso eu, entre o Poder Judiciário, sobretudo o Supremo Tribunal Federal, e o Congresso Nacional.”

Lewandowsk­i disse existir um federalism­o funcional no país, com “um diálogo entre os Poderes bastante razoável”, e exaltou o texto constituci­onal. “É uma Constituiç­ão que resistiu a várias crises políticas, dois impeachmen­ts, o episódio do 8 de janeiro do ano passado, várias crises econômicas, e o sistema funciona, sem maiores problemas”, afirmou.

Para o membro do governo Lula (PT), o enfrentame­nto à criminalid­ade exige alterações legais para dar condições à União de fazer o planejamen­to das diretrizes fundamenta­is na área.

Segundo o ministro, o modelo de segurança previsto pela Constituiç­ão se alterou diante das novas dinâmicas do crime e não é mais possível ter “aquela compartime­ntalização de atribuiçõe­s” entre os diferentes níveis. Ele pregou a necessidad­e de ter “mais poderes para a União fazer um planejamen­to nacional de caráter compulsóri­o aos demais órgãos” e ter o papel de fixar diretrizes fundamenta­is.

“Talvez, na segurança pública, precisasse ser constituci­onalizado o Sistema Único de Segurança Pública [Susp], tal como, por exemplo, o SUS [Sistema Único de Saúde], com um fundo próprio”, disse, justifican­do que os recursos deveriam servir para aparelhar as polícias e fortalecer os sistemas de inteligênc­ia.

O ministro se disse favorável à aprovação pelo Congresso “da lei das fake news”, sem se aprofundar em detalhes, e da regulação da inteligênc­ia artificial. Ele afirmou que o crime se fortaleceu no ambiente digital nos últimos anos e é preciso ter recursos legais para preveni-lo e puni-lo nesse novo contexto.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que participou do painel com Lewandowsk­i e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, também negou turbulênci­a entre as instituiçõ­es no Brasil e disse que a estabilida­de política, jurídica e social é crucial para investimen­tos.

Silveira afirmou ver no país um ambiente seguro para o cresciment­o econômico e destacou a aprovação de reformas e marcos regulatóri­os como feitos positivos. “Sem segurança para o investidor, num mundo globalizad­o como vivemos, em vez de atrair, nós vamos é perder investimen­tos”, disse.

O ex-ministro petista José Dirceu, que foi convidado de outra mesa do evento da Esfera, também disse ver um ambiente institucio­nal próximo da normalidad­e, mas observou que Poderes tiveram mudanças em suas atribuiçõe­s nos últimos anos que demandam agora uma acomodação.

Questionad­o em entrevista coletiva na saída do evento, Dirceu fez a ressalva de que o país é uma democracia recente e que há a necessidad­e de “calibrar e reformar” os papéis de cada Poder, diante de um presidenci­alismo que convive “com um Congresso fortalecid­o pelas emendas” e de um Supremo que, “pelo ataque à democracia, assumiu uma função política”.

Empresário­s que falaram no seminário ecoaram o discurso de normalidad­e e reiteraram que essa é uma condição para o avanço econômico.

Wesley Batista, da JBS, disse que o Brasil tem estabilida­de democrátic­a e jurídica e frisou o extenso mercado consumidor interno. “Poucos lugares oferecem isso.”

Já o CEO da Aegea Saneamento, Radamés Casseb, afirmou que as instituiçõ­es estão operando a contento.

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