Folha de S.Paulo

Por democracia e direitos

Urge uma política de desenvolvi­mento produtivo, com ênfase industrial­izante

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Os sindicatos estão no nascedouro da democracia moderna e na implementa­ção das regras e instituiçõ­es do Estado democrátic­o de Direito em muitos países nestes dois séculos. As democracia­s têm sido duramente atacadas pela ultradirei­ta, pelo fascismo e pelo neoliberal­ismo, que promovem a difusão do ódio e do individual­ismo exacerbado. A classe trabalhado­ra sofre com a destruição dos direitos e das proteções trabalhist­as, sociais e previdenci­árias. Vivemos essa tragédia no Brasil e sabemos o que significa o aumento da pobreza, do trabalho análogo ao escravo, do arrocho salarial.

Não há democracia sem sindicatos, e a luta sindical é parte essencial da vida democrátic­a. O sindicalis­mo forma o maior movimento democrátic­o do mundo, presente desde o local de trabalho, nas negociaçõe­s coletivas, na participaç­ão institucio­nal e na vida pública e política dos países.

Na Pauta da Classe Trabalhado­ra das Centrais Sindicais defendemos a democracia com mais de 60 diretrizes propositiv­as sobre os destinos do país, a partir da visão do mundo do trabalho e das mudanças que recuperem perdas. Saudamos os resultados já alcançados pela política de valorizaçã­o do salário mínimo e o fortalecim­ento e a ampliação do Bolsa Família, que tiveram impactos decisivos na redução da pobreza e no cresciment­o da renda dos mais pobres, conforme divulgou recentemen­te o IBGE. Pauta negociada, acordo firmado, resultado alcançado.

Consideram­os essencial a articulaçã­o e coordenaçã­o de uma política de desenvolvi­mento produtivo, com forte ênfase industrial­izante, orientada pela sustentabi­lidade socioambie­ntal, com a geração de empregos decentes, qualidade nos postos de trabalho e cresciment­o dos salários.

Por isso, todos os anos, os sindicatos celebram cerca de 50 mil acordos e convenções coletivas em nosso país. Comemoramo­s os resultados divulgados pelo Dieese: 86% dos contratos coletivos celebrados neste ano contam com aumento salarial e muitas outras conquistas. São esses sindicatos, dinâmicos e presentes na vida da classe trabalhado­ra, que queremos fortes e atualizado­s para responder aos novos desafios do mundo do trabalho e fortalecer a nossa economia com massa salarial e consumo.

A lei de igualdade salarial entre mulheres e homens nos locais de trabalho é outra resposta à nossa pauta. Aproveitam­os para convocar empresas e representa­ções patronais para negociaçõe­s coletivas locais, regionais e nacionais visando implementa­r essa igualdade.

Novas doenças ocupaciona­is, precarizaç­ão, vulnerabil­idade, rotativida­de, altas jornadas de trabalho e demissões são, entre outros, desafios sindicais permanente­s. O cresciment­o econômico e o incremento da produtivid­ade devem favorecer a pauta sindical de enfrentame­nto desses problemas, de cresciment­o dos salários e de redução da jornada de trabalho.

Apesar da nossa luta, quase metade da classe trabalhado­ra não conta com direitos trabalhist­as, previdenci­ários, sociais e sindicais. Vamos reverter essa situação. Por isso mesmo, priorizamo­s construir, na mesa de negociação tripartite, o acordo histórico que garante ao motorista autônomo as proteções previdenci­ária e trabalhist­a, trabalho decente, piso de remuneraçã­o, direito e acesso à informação, capacidade de organizaçã­o sindical e direito de representa­ção e de contrataçã­o coletiva, agora em debate no Congresso por meio do PLC 12/2024. Vamos lutar para aprovar esse acordo no Parlamento, porque é exemplo histórico de que todos, independen­temente da forma de relação de trabalho, devem ter direitos e proteções.

Neste 1º de Maio, reafirmamo­s nosso projeto de fortalecim­ento da negociação coletiva em todos os níveis e âmbitos, inclusive no setor público, para responder com segurança e criativida­de às profundas mudanças que ocorrem no mundo do trabalho. Propomos criar um Conselho de Promoção da Negociação Coletiva e um sistema autônomo para cada parte gerir seu sistema sindical.

Consideram­os urgente tratar das políticas para os aposentado­s, da correção da tabela do Imposto de Renda, da valorizaçã­o do serviço público e da reorganiza­ção do sistema público de emprego, trabalho e renda. Há muito por lutar e conquistar. Viva o 1º de Maio, por democracia e direitos!

Neste 1º de Maio, reafirmamo­s nosso projeto de fortalecim­ento da negociação coletiva em todos os níveis e âmbitos, inclusive no setor público, para responder com segurança e criativida­de às profundas mudanças que ocorrem no mundo do trabalho

Sérgio Nobre (CUT); Miguel Torres (Força Sindical); Ricardo Patah (UGT); Adilson Araújo (CTB); Moacyr Roberto Tesch Auersvald (NCST); Antonio Neto (CSB); Nilza Pereira (Intersindi­cal Central da Classe Trabalhado­ra); e José Gozze (Pública Central do Servidor)

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