Folha de S.Paulo

Raquel Lyra tira cargos do PL e cogita uma aliança com Lula

Indicados do partido de Bolsonaro foram exonerados pela governador­a de PE

- recife

A governador­a Raquel Lyra (PSDB) exonerou nesta terça-feira (30) cargos indicados por integrante­s do PL no Governo de Pernambuco. A ação acontece em meio a turbulênci­as na relação dela com o partido na Assembleia Legislativ­a e pode abrir caminho para uma aliança futura da gestora com o PT, partido do presidente Lula.

A saída do PL do governo foi articulada por Raquel após insatisfaç­ões com a conduta de deputados estaduais da legenda. O partido do ex-presidente Jair Bolsonaro tinha indicação no Detran (Departamen­to Estadual de Trânsito) e no ProRural (Programa Estadual de Apoio ao Pequeno Produtor Rural) de Pernambuco.

O PP, comandado pelo deputado federal Eduardo da Fonte no estado, deve ocupar a vaga no Detran. O partido tem sido o mais fiel à governador­a nas votações de projetos na Assembleia, enquanto o PL tem 3 dos seus 5 deputados na oposição e apenas 1 parlamenta­r da bancada aliado a Raquel Lyra.

A movimentaç­ão abre caminho para um convite futuro para ingresso do PT no governo, visando aliança para as eleições de 2026. A expectativ­a é que conversas com os petistas aconteçam somente depois das eleições municipais.

A saída do PL tem como motivação a ausência de votos pró-Raquel Lyra na bancada do partido na Assembleia Legislativ­a. As críticas do partido de Bolsonaro à governador­a são sobretudo em temas da segurança pública, área espinhosa para a atual gestão.

Em Pernambuco, o PL é presidido pelo ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira, aliado do presidente nacional da sigla, Valdemar

Costa Neto. O partido conta com outra ala, mais ligada a Bolsonaro, comandada pelo ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto, pré-candidato a prefeito do Recife.

Nos bastidores, Anderson e Gilson travam disputa por protagonis­mo no PL. Pragmático, Anderson foi quem bancou a aliança com Raquel Lyra no início do governo dela, em 2023, enquanto a ala mais ideológica do partido tem feito críticas à governador­a.

Atualmente, o governo busca vitória na Assembleia em um projeto que propõe a extinção gradual das faixas salariais da Polícia Militar até 2026. Mas o PL e outros partidos de oposição, como o PSB, querem antecipar o fim das faixas salariais para 2025 ou até mesmo antes, indo de encontro ao governo, que alega não ter condições orçamentár­ias para fazer essa movimentaç­ão.

Já nas eleições do Recife, a divergênci­a está consolidad­a, com o PL tendo a candidatur­a de Gilson Machado, enquanto Raquel apoiará o ex-deputado e secretário estadual de Turismo Daniel Coelho (PSD).

Para 2026, Raquel Lyra cogita mudar de partido. PSD e MDB são os mais cotados para uma eventual migração. A perda de fôlego do PSDB e a possibilid­ade de disputar a reeleição em um partido com mais musculatur­a política e de fundo partidário são os componente­s da equação.

No entorno da governador­a, não está descartado um eventual apoio a Lula em 2026. Petistas pernambuca­nos dizem, sob reserva, que o presidente não recusaria o apoio junto com o do prefeito do Recife, João Campos (PSB), que pode ser candidato a governador contra Raquel se reeleito neste ano.

Membros do PT já afirmaram publicamen­te que, com o PL no governo, seria impossível uma eventual composição com a governador­a. Agora, o movimento abre flanco para nova avaliação. O entorno do senador Humberto Costa não descarta uma candidatur­a à reeleição na chapa de Raquel. O Palácio do Campo das Princesas também vê chances da aliança.

O assunto, porém, não é pacificado dentro do PT. O secretário de Meio Ambiente do Recife, Oscar Barreto, integrante da gestão João Campos, diz que o futuro do partido no estado tem que ser ao lado do atual prefeito.

“O partido é maior e cumpre uma tarefa de reforçar a Frente Popular [coalizão política do PSB]. No PT, hoje, tem uma turma grande aliada da governador­a Raquel, incluindo a bancada estadual, inclusive que tenta uma candidatur­a [no Recife] para ter apoio da governador­a”, diz. “O que mais interessa hoje é a liderança que João Campos exerce no Recife e em Pernambuco, e não mais discutir interesses pessoais.”

O PT se posicionou como oposição a Raquel, mas os três deputados estaduais do partido têm votado frequentem­ente alinhados ao governo do estado, incluindo o ex-prefeito do Recife João Paulo. Uma possível candidatur­a própria dele tem sido estimulada nos bastidores pelo Palácio do Campo das Princesas, para atrapalhar João Campos e forçar um segundo turno, mas a ideia não avançou até agora.

Na semana passada, Raquel recebeu integrante­s do MST (Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra) junto com a deputada estadual Rosa Amorim (PT) na sede do governo. As fotografia­s do encontro irritaram integrante­s do PL e expuseram a proximidad­e de ala do PT com o governo.

Já a ala insatisfei­ta do PT avalia que João Campos não trata o partido adequadame­nte na disputa pela vaga de vice na chapa do prefeito. Conforme revelou a o prefeito articulou a filiação de quatro secretário­s municipais a partidos aliados como alternativ­as para a vaga de vice na chapa dele.

João Campos resiste a ceder a vaga ao PT, que quer preencher a vaga na expectativ­a de assumir a prefeitura em caso de renúncia do prefeito para ser candidato a governador em 2026.

O PSB prefere que um aliado de confiança de João Campos seja o vice do prefeito. Na visão do partido, os quatro secretário­s que se aliaram a partidos da base de João Campos se encaixam nesses critérios.

Entraram em partidos, na reta final do prazo de filiação, os secretário­s municipais de Finanças, Maíra Fischer (União Brasil); Infraestru­tura, Marília Dantas (MDB); de Planejamen­to, Felipe Matos (Republican­os); e o chefe de gabinete, Victor Marques (PC do B).

Ainda no páreo, o PT tem dois nomes como pré-candidatos à vaga: o assessor do Ministério das Relações Institucio­nais, Mozart Sales, e o deputado federal Carlos Veras.

José Matheus Santos Membros ligados ao PL exonerados do Governo de PE

Jael Maurino do Carmo coordenaçã­o do Detran

Mychel Gomes de Sá diretor do ProRural

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Ton Molina - 7.mar.24/Fotoarena/Folhapress Raquel Lyra, governador­a de Pernambuco, abriu caminho para tentar aliança com o PT no estado e nas eleições de 2026

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