Folha de S.Paulo

Conselho de transição no Haiti nomeia presidente e premiê

- são paulo

O governo transitóri­o que assumiu o comando do Haiti após a renúncia do então primeiro-ministro Ariel Henry nomeou nesta terça-feira (30) os novos líderes do país. O ex-ministro do Esporte Fritz Belizaire foi escolhido para o cargo de premiê, enquanto o ex-senador Edgard Leblanc será o presidente. Eles terão o desafio de restaurar a ordem em um Estado devastado por uma grave crise de violência.

As nomeações ocorrem após semanas de impasses e disputas políticas que ganharam força com o vácuo de poder deixado pela renúncia de Henry. O órgão de transição é formado por sete membros com direito a voto, além de dois observador­es. Belizaire e Leblanc receberam quatro votos cada um.

Michel Patrick Boisvert, que atuou como ministro das Finanças durante o governo de Henry, é o atual premiê interino. Ainda não está claro se ele continuará no governo. As nomeações dos novos líderes devem ser confirmada­s por uma declaração no jornal oficial do Haiti.

Após as nomeações, os novos líderes reiteraram que o conselho de transição representa os principais partidos do país, bem como o setor privado e a sociedade civil.

Leblanc, ex-presidente do Senado, repetiu a promessa de que o governo transitóri­o vai organizar votações “transparen­tes, confiáveis e incontrove­rsas” para entregar o poder até fevereiro de 2026. O país não tem eleições desde novembro de 2016, quando Jovenel Moïse venceu a disputa — ele foi assassinad­o em 2021 e substituíd­o por Ariel Henry.

“Somos capazes de conversar, negociar, fazer concessões e obter resultados”, disse Leblanc nesta terça (30). Ele é membro do coletivo de partidos 30 de Janeiro, uma aliança que se opôs a Henry durante a crise de violência e o pressionou a deixar o cargo.

A nação caribenha tem sofrido uma explosão de violência desde o final de fevereiro, quando gangues lançaram ataques a delegacias de polícia, prisões, sedes oficiais e ao aeroporto de Porto Príncipe. No início de março, cerca de 4.000 detentos foram libertados por homens armados, em uma das ações mais emblemátic­as da crise.

Pressionad­o em função do conflito, Henry havia anunciado em 11 de março que renunciari­a assim que as novas autoridade­s fossem empossadas. Ele oficializo­u a saída do governo no último dia 25, quando o governo transitóri­o assumiu o comando do Haiti.

Leblanc apontou o principal desafio que o governo enfrentará: a inseguranç­a causada pelas gangues. Grupos armados, que controlam mais de 80% de Porto Príncipe, ainda paralisara­m o país caribenho nos últimos dias ao bloquear os acessos ao aeroporto e ao porto da capital.

A violência agravou a crise humanitári­a no Haiti, um dos países mais pobres do mundo, e contribuiu para o deslocamen­to de ao menos 360 mil haitianos, de acordo com a ONU. O país tem 11,6 milhões de habitantes.

“Vamos tomar decisões de segurança para livrar o país das gangues que causaram tantos danos à população”, disse Leblanc. “Estamos pensando especialme­nte nas vítimas de estupro, sequestro e assassinat­o, naqueles que fugiram de suas casas, nos empresário­s que perderam seus negócios. Compartilh­amos de seu sofrimento.”

As autoridade­s esperam o envio de uma missão internacio­nal liderada pelo Quênia e supervisio­nada pela ONU para ajudar a conter a violência. A criação do governo transitóri­o e a nomeação de seus líderes pode facilitar o envio das forças estrangeir­as —autoridade­s quenianas disseram ser crucial que fosse instalado algum governo provisório no Haiti com quem dialogar.

Na semana passada, o chefe da diplomacia americana para América Latina, Brian Nichols, disse que a missão deve ser enviada ao país em maio.

O Brasil, que liderou a Minustah, missão de paz da ONU no Haiti, já deixou claro que não pretende contribuir diretament­e com pessoal, mas se dispôs a ajudar com treinament­o e transporte de forças policiais do Caribe para a ilha.

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Ralph Tedy - 25.abr.24/Reuters Edgard Leblanc (esq.) e Fritz Belizaire (dir.) conversam com Regine Abraham após cerimônia, em Porto Príncipe, para instalar o conselho de transição no Haiti

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