Folha de S.Paulo

Roupas contra dengue são eficazes, mas não dispensam cuidados

- Curitiba

Enquanto o Brasil atinge um número recorde nos casos de dengue, que já causou 1.888 mortes no país só em 2024, marcas nacionais de roupas, como Insider e Extreme, têm apostado em camisetas com repelentes de insetos para afastar o mosquito Aedes aegypti, transmisso­r da doença.

A técnica consiste em impregnar o tecido com permetrina, versão sintética de um composto encontrado nas flores de crisântemo capaz de irritar, paralisar e matar o animal ao agir sobre as células nervosas dele.

Absorvida pela roupa por meio de rolos compressor­es ou do banho do tecido no composto, a substância pode permanecer na peça por até 50 lavagens caseiras, a depender da marca e do cuidado com o item, mas vai perdendo a força nesse intervalo.

Essa tecnologia foi criada em 1973 e aplicada pela primeira vez em larga escala em 1979 pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA). Hoje, a maioria dos tecidos pode receber o inseticida, desde colchões, lençóis, palmilhas e jalecos até produtos de higiene pessoal, diz o coordenado­r do curso de Engenharia de Bioprocess­os e Biotecnolo­gia da Universida­de Positivo Leonardo

Wedderhoff Herrmann.

Aliada no combate à dengue, a técnica integra as medidas de controle de vetores dos EUA desde 1990, sendo aplicada em roupas e em uniformes militares. Em 2016, também foi usada durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro para conter a expansão do zika vírus e proteger atletas do patógeno.

De baixa toxicidade e comum em produtos de uso tópico, como xampus anti-piolho e sarnas, a permetrina pode incomodar insetos a uma distância de até 20 centímetro­s do tecido, diz a líder de pesquisa e desenvolvi­mento da Insider, Karen Prado. Ainda assim, não substitui repelentes em spray ou creme, reforça a dermatolog­ista, Kátia Scheylla Malta Purim, doutora em Medicina pela UFPR (Universida­de Federal do Paraná). Cabeça, pescoço, mãos e pés —áreas não cobertas pela roupa— estão entre as mais suscetívei­s ao ataque de insetos e precisam de atenção especial.

Além disso, nenhum fabricante pode garantir que todos os mosquitos sejam repelidos pela camiseta, diz o sócio-administra­dor da Extreme, Marcel Cavilha Juppa. A eficácia da ação repelente nas roupas é de aproximada­mente 94%, portanto, elas devem ser tratadas como uma camada extra de proteção, e não a única.

Embora roupas de efeito repelente sejam considerad­as seguras e eficazes, é importante conferir o registro de cada marca junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que regula repelentes e inseticida­s aplicados em objetos e tecidos seguindo a nota técnica 9/2019.

A permetrina não é a primeira tecnologia aplicada em tecidos para fins sanitários. Outra solução estudada recentemen­te são os compostos à base de nanopartíc­ulas de prata, cobre e zinco, que, além de afetarem mosquitos, também evitam aqueciment­o e passagem de luz ultraviole­ta (UV), diz Herrmann. Em São Carlos, no interior paulista, a empresa Nanox,

focada em nanotecnol­ogia, recebeu apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para desenvolve­r roupas que controlam calor e odor enquanto afastam insetos com base nessa ideia.

Para além dos repelentes, a indústria têxtil também investe em tecidos antivirais. Durante a pandemia de Covid, a marca de roupas Lupo passou a oferecer máscaras, camisetas, calças, leggings, casacos, vestidos e até capinhas para celular que inativavam o vírus. A Nanox também produziu máscaras e roupas capazes de inativar 99,9% dos vírus em dois minutos, com micropartí­culas de prata.

Livia Inácio

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