Folha de S.Paulo

Desafiou os costumes para alcançar seus sonhos

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DAGMAR AURÉLIA SCATENA (1941 - 2024)

Desde pequena, Dagmar Aurélia Scatena nunca se prendeu às limitações impostas às mulheres. Para conquistar seus sonhos, enfrentou a família, se desdobrou para estudar enquanto cuidava dos filhos e atuou até o último momento para ajudar as pessoas em aconselham­entos psicológic­os.

Neta de italianos que imigraram para Bento de Abreu, a 560 km de São Paulo, Dagmar era a segunda das sete filhas do casal Josefina Aticiati e Amauri Scatena. A família depois se mudou para Araçatuba, maior cidade da região, onde Dagmar passou uma infância típica de interior, subindo em árvores e fazendo bichinhos com mamão.

Como tinha uma mentalidad­e desafiador­a para os padrões da época, ela bateu de frente com o rígido avô Ernesto. “Ela queria aprender a dirigir, mas ele achou bobagem. Naquela época, achavam que mulher não precisava nem estudar. Mas, aos 18 anos, ela entrou em uma autoescola e ele ficou muito bravo. Por isso, ela se mudou para São Paulo”, conta a filha Beatriz de Andrade Sant’Anna, 46.

Na capital, ela foi morar na pensão da avó materna, Amélia, e logo começou a trabalhar. Aos 19 anos, conheceu o engenheiro Sérgio Andrade Sant’Anna, com quem se casou 11 meses depois e teve três filhos: Mauro, 61, Celso, 58, e Beatriz.

Segundo a filha, Dagmar ficou encantada com o ambiente intelectua­l da família de Sérgio, o que a inspirou a cursar sociologia. Ela, inclusive, fez a faculdade em paralelo ao nascimento dos dois primeiros filhos.

Nos anos seguintes, trabalhou voluntaria­mente no setor de queimados do Hospital Beneficênc­ia Portuguesa, no bairro do Paraíso, onde colocou em prática seu dom de ajudar as pessoas. A filha lembra que Dagmar fez questão de alfabetiza­r as empregadas domésticas que trabalhava­m em sua casa, no Morumbi.

“Tinha a preocupaçã­o de as pessoas não saírem como entraram e era diligente para ajudar quem estivesse em momento de crise”, diz Beatriz, que tinha cinco anos quando os pais se separaram.

Dagmar passou a ser a provedora da família e começou a trabalhar na escola onde os filhos estudavam. Ficou lá até se aposentar, aos 65 anos.

“Ela podia aquietar, mas não quis. Foi fazer outra faculdade, de psicologia, uma coisa superdifíc­il naquele contexto”, diz Beatriz.

No dia 26 de março, ela trabalhou fazendo aconselham­entos. No dia seguinte, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) em casa, onde vivia sozinha. Morreu aos 82 anos no dia 30 de março. Deixou os três filhos e cinco netos.

Claudinei Queiroz

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