Anos de Ronaldo no Cruzeiro tiveram volta à Série A, saída de ídolos e críticas da torcida
são paulo Em menos de 2 anos e meio à frente da SAF (Sociedade Anônima de Futebol) do Cruzeiro, Ronaldo levou o clube de volta à Série A do Brasileiro e recolocou a equipe em uma competição internacional após ausência de cinco anos, além de ter ficado com dois vices do estadual.
Apesar da falta de conquistas na primeira divisão ou no Mineiro, especialistas avaliam que a gestão foi bem-sucedida.
Na segunda (29), o ex-jogador anunciou a venda de sua participação de 90% na SAF para o empresário Pedro Lourenço, em negócio avaliado em R$ 600 milhões. Ele disse que deixa o comando com sensação de “dever cumprido”.
Quando comprou a SAF do Cruzeiro, em dezembro de 2021, o clube disputava a Série B do Brasileiro havia dois anos, tendo corrido risco de ser rebaixado para a Série C.
Logo que assumiu, sob a euforia de uma torcida ávida pela retomada dos dias de glória, o ex-jogador promoveu mudanças importantes. Um dos principais ídolos do elenco, o goleiro Fábio, com quase mil partidas pelo clube, deixou a agremiação após 16 anos e seguiu para o Fluminense. Em 2023, aos 43, foi campeão da Libertadores com a equipe do Rio.
Também houve mudanças na comissão técnica, com a chegada do técnico uruguaio Paulo Pezzolano para o lugar de Vanderlei Luxemburgo e de Pedro Martins na função de diretor de futebol.
No estadual de 2022 Cruzeiro acabou derrotado pelo Atlético-MG por 3 a 1 —o último título do Mineiro foi em 2019. Pouco após o término do regional, o atacante Vitor Roque, um dos destaques do time, foi negociado com o Athletico-PR. Posteriormente, o jogador seria vendido para o Barcelona-ESP por 74 milhões de euros (R$ 409 milhões).
Em sua terceira participação na série B, o Cruzeiro teve aproveitamento em torno de 90% como mandante, o assegurou a volta à Série A na 31ª rodada, com sete jogos de antecedência, antes que qualquer clube na história da competição.
No estadual seguinte, em 2023, nem sequer chegou à final. Foi eliminado pelo América-MG nas semis.
Na volta à Série A, o Cruzeiro fez bom primeiro turno, mas caiu de rendimento na segunda metade e a flertou com a zona de rebaixamento. Terminou em 14º, garantindo a permanência e vaga para a Copa Sul-Americana de 2024.
No estadual deste ano, chegou à final, mas, de novo, perdeu para o Atlético-MG. Empatou a primeira partida e perdeu de virada a segunda (seria campeão em caso de empate).
Na mais recente partida do Brasileiro contra o Vitória, no Mineirão no domingo (28), quando a venda da SAF já era esperada, torcedores demonstraram sua insatisfação com a gestão do ex-jogador e estenderam uma faixa com os dizeres “Tchau, Ronaldo”.
Embora sem taças na elite, especialistas avaliam a gestão como bem-sucedida.
“Ronaldo reanimou um paciente em estado terminal”, diz Thiago Freitas, diretor da Roc Nation Sports no Brasil, empresa que gerencia a carreira de atletas como Vinicius Júnior e Endrick.
Freitas assinala que o ex-jogador viabilizou aporte emergencial de R$ 50 milhões que impediu o encerramento das atividades do clube, se cercando de profissionais competentes para dirigir o clube.
Em conversa para anunciar a venda da SAF, Ronaldo afirmou que assumiu o Cruzeiro na UTI, tendo reduzido quase pela metade a dívida de cerca de R$ 1,3 bilhão, além de ter quintuplicado o faturamento. O balanço de 2023 é esperado nos próximos dias.
“Consciente de que sem novos aportes relevantes não existia possibilidade de que o clube almejasse mais do que equilibrar receitas e despesas para se manter como coadjuvante na Série A, Ronaldo negociou suas ações com quem não só pode viabilizar esses aportes, mas tem incentivos adicionais relacionados a outros negócios para os fazer”, diz Freitas, em referência a Pedro Lourenço, dono da rede de Supermercados BH.
CEO da agência de marketing esportivo Heatmap, Renê Salviano diz que, seja sob a ótica administrativo-financeira, seja sob a ótica desportiva, os objetivos da gestão de Ronaldo foram alcançados.
“Precisamos analisar com olhar técnico e saber como é difícil gerir uma instituição gigante como o Cruzeiro, ainda mais naquele momento”, diz.