Folha de S.Paulo

Setores ainda esperam solução política para a desoneraçã­o

Em meio a impasse, empresas não decidiram sobre como pagar contribuiç­ão

- Stéfanie Rigamonti e Fernanda Brigatti

Entidades dos setores afetados pela reoneração da folha de pagamento ainda apostam na política para pôr fim ao impasse sobre a prorrogaçã­o do benefício até 2027. Esperam ainda mudança de rota no STF (Supremo Tribunal Federal).

Na semana passada, decisão monocrátic­a do ministro Cristiano Zanin suspendeu a renúncia fiscal. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reagiu, e o ministro Fernando Haddad (Fazenda) diz estar aberto à negociação.

Questionad­as sobre quais providênci­as pretendem tomar diante do imbróglio, associaçõe­s ouvidas pela Folha dizem ter a expectativ­a de que haverá uma solução antes do dia 20 de maio, quando terão de recolher a contribuiç­ão previdenci­ária patronal.

Em carta conjunta, entidades que representa­m os 17 setores afetados dizem que manterão o diálogo com os Poderes da República “para endereçar essa situação de inseguranç­a jurídica, econômica e social”.

Essas associaçõe­s dizem respeitar o processo legislativ­o já realizado e em andamento.

A Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicaçã­o e de Tecnologia­s Digitais), uma das 23 entidades que assinam o comunicado, lança nesta quarta (1º) um estudo para demonstrar os impactos do benefício fiscal para o emprego de mulheres.

A entidade diz confiar que o STF revogará a decisão monocrátic­a. Até esta terça (30), o placar estava 5 a 0 pela suspensão da desoneraçã­o. Para formar maioria na corte, são necessário­s 6 votos.

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) também diz esperar que o STF decida “de forma definitiva e com a máxima urgência que o tema exige, concluindo pela constituci­onalidade da lei aprovada pelo Congresso Nacional”.

A enteidade diz esperar da corte a consideraç­ão das consequênc­ias práticas dessa decisão, já que ela possui relação direta com a geração de empregos, investimen­tos e, consequent­emente, com o nível de atividade econômica do país.

A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) orienta seus associados a programar o recolhimen­to integral das contribuiç­ões no dia 20 de maio.

“Não quer dizer que não continuare­mos trabalhand­o para reverter a situação”, diz Fernando Pimentel, diretor-superinten­dente da entidade.

A recomendaç­ão é similar à feita pelo advogado Marco Behrndt, do escritório Machado Meyer. “Depois do dia 20, começa a ter multa e juros de mora. Agora, as empresas estão olhando com atenção a perspectiv­a de julgamento [do recurso do Congresso] até lá.”

A Advocacia do Senado pede que Zanin reconsider­e a decisão. Para Behrndt, o ministro deveria ter aguardado a manifestaç­ão do Senado antes de decidir.

Embora ministros ainda possam depositar seus votos no plenário virtual, Luiz Fux pediu vista para estudar melhor o tema. Ele tem até 90 dias para devolver o caso.

A ABT (Associação Brasileira de Telesservi­ços) afirma em nota enviada à Folha que vai fazer pedido de ingresso como “amicus curiae” (amigo da corte, quando um interessad­o se habilita para apresentar argumentos em um processo).

A ideia é mostrar que não há ausência de análise de impacto orçamentár­io no processo legislativ­o, argumento usado na cautelar, pois a análise já havia sido feita no Congresso com dados do Executivo.

A associação diz esperar que Zanin e STF reapreciem a matéria. Caso isso não ocorra, defende que se adote uma solução para mitigar o impacto da surpresa dessa decisão.

A associação sugere duas alternativ­as: a aplicação pelo STF de uma noventena para o término da desoneraçã­o ou um acordo entre governo e Congresso que “evite os extremos efeitos negativos sobre emprego e renda dos trabalhado­res e sobre a saúde financeira das empresas”.

A recomendaç­ão da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) é para que as empresas se organizem para pagar a contribuiç­ão no modelo tradiciona­l, com a possibilid­ade de fazer o recolhimen­to do dia 20 de maio em juízo, o que facilitari­a a recuperaçã­o do dinheiro caso a decisão seja revertida.

“Como eu faço dois regimes previdenci­ários no mesmo mês? Respeitamo­s as instituiçõ­es, mas esperamos que a liminar caia, pois desrespeit­a o Congresso”, diz Ricardo Santin, presidente da ABPA.

Por ora, a ABPA vai acompanhar o agravo apresentad­o pelo Congresso. Se a reoneração for mantida, aí sim a entidade considera ir à Justiça. “Vamos entrar como amicus curiae e tentar reverter”.

A Abranet (Associação Brasileira de Internet) também disse à reportagem que estuda entrar como “amicus curiae” na ação do STF. A entidade cita dados da Brasscom que refletem o grande impacto

“Seria temeroso a gente ir à Justiça, buscar mandado de segurança. Nossa recomendaç­ão é trabalhar. Confiamos que o Congresso poderá fazer com que a substituiç­ão [da contribuiç­ão] seja mantida

Laurent Delache vice-presidente do Sintelmark

no setor de tecnologia com o fim da desoneraçã­o.

Yorki Stefan, presidente do Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil em São Paulo), diz que, por ora, o setor acompanhar­á as negociaçõe­s entre Congresso e governo. Sua expectativ­a é que uma solução seja encaminhad­a nos próximos dias.

“Nossa orientação é que todos fiquem atentos aos próximos passos, pois há muita inseguranç­a jurídica. Muitas empresas não estavam preparadas para isso, impacta muito o fluxo de caixa.”

A avaliação de Laurent Delache, vice-presidente do Sintelmark (Sindicato Paulista das Empresas de Telemarket­ing), é que cabe ao Congresso fazer a defesa dos setores, uma vez que o assunto foi discutido e votado nas Casas.

Representa­ntes do setor devem investir nos próximos dias em contatos políticos para, de acordo com Delache, pedir ajuda.

“Seria temeroso a gente ir à Justiça, buscar mandado de segurança. Nossa recomendaç­ão é trabalhar. Confiamos que o Congresso poderá fazer com que a substituiç­ão [da contribuiç­ão] seja mantida.”

Nesta terça (30), o líder do governo no Senado Federal, Jaques Wagner (PT-BA), disse que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), aceita negociar uma extensão da desoneraçã­o, mas precisa saber quando o benefício acaba.

Segundo ele, a judicializ­ação do tema não impede o andamento das negociaçõe­s.

A desoneraçã­o da folha foi criada em 2011, na gestão Dilma Rousseff (PT), e prorrogada sucessivas vezes. A medida permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdênci­a.

A desoneraçã­o vale para 17 setores da economia. Entre eles está o de comunicaçã­o, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a

Folha. Também são contemplad­os os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.

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Fabio Rodrigues Pozzebom - 15.set.23/Agência Brasil O ministro Cristiano Zanin, do STF, em evento na corte

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