Folha de S.Paulo

Ataque ao governo desviou R$ 6,7 milhões do TSE com oito operações em um minuto

- Mateus Vargas e Idiana Tomazelli Colaborou Julia Chaib

Invasores do sistema de pagamentos da administra­ção federal, o Siafi, desviaram R$ 6,7 milhões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em oito operações diferentes realizadas em um minuto.

As transações, feitas em 16 de abril, usaram as credenciai­s de acesso furtadas de dois funcionári­os do órgão para autorizar os pagamentos via Pix.

Um dos servidores estava habilitado como ordenador das despesas. O segundo era gestor financeiro do tribunal.

O aval de funcionári­os destas funções é necessário para concluir as transferên­cias. Os horários em que as senhas foram usadas estão registrado­s nas ordens bancárias do Siafi.

Nas oito operações, o procedimen­to foi idêntico. Os criminosos usavam o CPF do ordenador para assinar a ordem bancária às 18h23. Às 18h24, se valiam da senha do gestor para dar sinal verde ao pagamento.

Ao todo, os registros mostram pelo menos 16 investidas bem-sucedidas num intervalo de uma hora e 12 minutos.

Os autores conseguira­m subtrair R$ 11,39 milhões do TSE nessas operações, concentrad­as em intervalos de um minuto. Eles ainda tentaram desviar outros R$ 2,22 milhões em seis operações adicionais, canceladas após rejeição do Banco Central.

A invasão ao Siafi foi revelada pela Folha. Dados extraídos do sistema mostram que os criminosos desviaram ao menos R$ 15,19 milhões, sendo R$ 3,8 milhões do MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), e os demais valores do TSE. Até agora, sabe-se que R$ 2 milhões foram recuperado­s.

O Executivo não confirma o total desviado, sob a justificat­iva de que o inquérito da Polícia Federal corre sob sigilo.

Na semana passada, a PF colheu o depoimento de servidores que tiveram as credenciai­s roubadas. O procedimen­to é considerad­o uma formalidad­e, dado que a principal hipótese é de que eles foram vítimas.

Os dados do Siafi mostram que as operações com recursos do TSE se concentrar­am em seis horários diferentes, entre 17h49 e 19h01, em 16 de abril.

Para os primeiros desvios do tribunal, que somaram R$ 2,5 milhões, os criminosos usaram no mesmo minuto as duas senhas roubadas, primeiro às 17h49, depois às 17h59.

Mais tarde foram autorizada­s as transferên­cias de R$ 6,7 milhões, entre 18h23 e 18h24.

Novas transações totalizand­o R$ 2,19 milhões foram feitas entre 18h39 e 18h40, entre 18h54 e 18h55 e, de forma derradeira, às 19h01. A sequência foi sempre a mesma: primeiro, a assinatura do ordenador, seguida do aval do gestor financeiro no minuto seguinte.

Os valores desviados estavam empenhados para o Serpro (Serviço Federal de Processame­nto de Dados), empresa pública federal de tecnologia, e a G4F, que presta serviços de tecnologia da informação.

Os invasores alteraram o destino final dos recursos para beneficiar contas de empresas e pessoas físicas que não têm contratos com o governo. Os donos de duas destas empresas disseram à Folha que foram vítimas do esquema e tiveram dados usados indevidame­nte pelos criminosos.

Os dados do Siafi ainda mostram desvios de verba do MGI para três empresas no dia 28 de março, véspera de feriado (Sexta-feira Santa). Técnicos do ministério notaram a invasão no dia 1º de abril.

Uma das operações, de R$ 1 milhão, foi feita às 21h22, com as duas assinatura­s no mesmo minuto. Transação maior, de R$ 2 milhões, foi autorizada às 21h42. A ação derradeira se deu às 22h08, com a transferên­cia de mais R$ 768 mil.

Após o ataque, o governo endureceu o acesso aos sistemas.

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