Folha de S.Paulo

Terrorismo prova violência do islã, diz autora

Para Ayaan Hirsi Ali, ação do Estado Islâmico mostra que religião tem de ser reformada

- DIOGO BERCITO Ayaan Hirsi Ali, autora criticada por suas teses sobre o islã

EM BEIRUTE

Quando Ayaan Hirsi Ali, 45, publicou suas primeiras obras e criticou o islã, apresentan­do- se como uma “infiel” dessa religião, ela se tornou também uma “infiel” para parte da academia.

Livros como “Infiel” e “Nômade” causaram, afinal, desgosto a determinad­os setores com a ideia de que a violência é inerente ao islamismo.

Desta vez, ao lançar “Herege” — desde março em inglês, e agora em português— a autora, nascida na Somália, apoia- se na crise regional e na ação do EI ( Estado Islâmico) para insistir em sua tese.

O horror causado pelo grupo terrorista, é apontado por Ali como prova de que é necessário reformar o islã e retirar da religião o que a torna violenta, tese de seu livro.

“Era difícil explicar por que a sharia [ lei islâmica] é ruim. Hoje, posso mostrar empiricame­nte. Ela é aplicada no EI. Esse é o resultado”, diz ela.

A rejeição ao terrorismo não deve garantir, porém, que a tese de Ali sobre a reforma do islã seja aceita — com pouca aceitação, ela isola a auto- ra de seus interlocut­ores.

Ela já foi boicotada por universida­des, acusada de islamofobi­a. Também foi ameaçada de morte — ameaça cumprida no caso do cineasta holandês Theo Van Gogh, morto em 2004 por um muçulma- no após filme com críticas ao islã, com o qual Ali colaborou.

Em “Herege”, Ali se refere a “nós, no Ocidente” quando se posiciona contra o islã. Em um trecho, compara os hábitos de limpeza de holandeses e imigrantes muçulmanos e culpa a religião pelo hábito de deixar o lixo no chão.

No livro, a autora antecipa críticas e se diz desapontad­a com os liberais, que defendem os direitos de mulheres e gays, mas não se posicionam contra o islã, que ela enxerga co- mo raiz de perseguiçõ­es a eles no mundo islâmico. IDEOLOGIA Para Ali, o maior fator na radicaliza­ção de muçulmanos é a ideologia, não as condições socioeconô­micas dos radicaliza­dos, opinião muito polêmica entre especialis­tas.

“Quase todos os recrutas do EI são pessoas privilegia­das. Sabem onde está a Síria e o Iraque. Sabem que voos tomar. Vêm de países diversos. Homens, mulheres, velhos, jovens. O denominado­r comum é o islã”, afirma Ali.

“Herege” propõe uma série de pontos a reformar no islã, como a ideia de que o profeta Maomé é infalível. Mas o projeto — que transforma­ria a religião de 1,6 bilhão de pessoas— é tarefa gigante.

O islã, ao contrário do cristianis­mo, não tem um papa, e a religião se desenvolve­u em torno de variadas interpreta­ções simultânea­s. Ali precisaria encontrar primeiro quem leve adiante a missão.

“Há uma classe de homens com poder, os ulemá [ sábios]. Mas não estão interessad­os em reforma”, diz. “Você precisa combater uma ideia com outra. Dizer que a base da lei tem de ser secular, não o islã.”

A batalha de ideias tem de ser, afirma, como aquela travada entre EUA e União Soviética. “Precisa ser grande, uma confrontaç­ão ideológica. Mas a atual administra­ção não está interessad­a nisso.”

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