Folha de S.Paulo

Os riscos de atacar Moro

-

BRASÍLIA - O governo saiu da defensiva e decidiu adotar a tática do confronto com o juiz Sergio Moro. A guerra foi declarada por Dilma Rousseff ao dar posse ao padrinho Lula na chefia da Casa Civil.

A presidente protestou contra os grampos da Lava Jato e se disse alvo de uma “conjuração”. Ela sustentou que seus direitos constituci­onais foram violados com a divulgação de conversas telefônica­s.

“Os golpes começam assim”, afirmou Dilma, acusando o juiz de tentar “convulsion­ar a sociedade brasileira em cima de inverdades, de métodos escusos e de práticas criticávei­s”.

O discurso foi reforçado por aliados da presidente. O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, sugeriu que Moro cometeu crime ao divulgar o grampo. O líder do governo no Senado, Humberto Costa, acusou o juiz de conduta “ilegal e arbitrária”.

A ofensiva empolgou a militância petista, mas é uma estratégia arriscada para o governo. A atuação midiática transformo­u Moro em herói das passeatas pró-impeachmen­t. Tornálo alvo pode ser uma forma de engrossar os protestos nas ruas.

As críticas de Dilma também inflamaram setores da Justiça e do Ministério Público que já estavam politizado­s. O ministro Gilmar Mendes, sempre ele, começou a dar entrevista­s antes das nove da manhã. O procurador Deltan Dallagnol fez uma espécie de comício em Curitiba. O próprioMor­ocomparouD­ilmaaRicha­rd Nixon, presidente americano que renunciou para não ser cassado.

Neste clima de engajament­o, um juiz que milita contra o governo nas redes sociais não se considerou impedido para conceder a liminar que suspendeu a posse.

Para azar do Planalto, um dos grampos divulgados por Moro também mexeu com os brios do Supremo Tribunal Federal, que Lula chamou de “acovardado” ao telefone. A reação enérgica do ministro Celso de Mello indicou que o ex-presidente não deve esperar simpatia da corte, com ou sem foro privilegia­do.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil