Folha de S.Paulo

GOVERNO SITIADO Ofensa de Lula ao STF é torpe e típica de mentes autocrátic­as, diz ministro

Discurso feito pelo decano foi acertado na véspera entre os demais integrante­s do tribunal

- MÁRCIO FALCÃO

Fala de Celso de Mello foi uma referência a diálogo de Lula no qual o petista fala que o STF está ‘acovardado’

Integrante mais antigo do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Celso de Mello afirmou nesta quinta-feira (17) que as “ofensas” e “grosserias” do ex-presidente Lula ao tribunal representa­m uma reação “torpe e indigna”, que é típica de “mentes autocrátic­as e arrogantes” que temem a prevalênci­a da lei.

Ele disse ainda que “condutas criminosas perpetrada­s à sombra do poder jamais serão toleradas”. O discurso ocorreu logo na abertura da sessão e foi acertado como uma resposta institucio­nal às gravações tornadas públicas na quarta-feira (16) nas quais Lula afirma à presidente Dilma Rousseff que o STF é um tribunal acovardado.

A resposta do Supremo começou a ser costurada na noite de quarta. Os ministros têm demonstrad­odesconfor­tocom as repetidas citações nas investigaç­ões da Lava Jato de que haveria interferên­cia do governo, especialme­nte de Dilma, em favor de presos da Lava Jato em tribunais superiores.

Em seu discurso, Celso de Mello não citou o nome de Lula, mas disse que “conhecida figura política de nosso país, em diálogo telefônico com terceira pessoa, ofendeu, gravemente, a dignidade institucio­nal do Poder Judiciário”.

“Esse insulto ao Judiciário, além de absolutame­nte inaceitáve­l e passível da mais veemente repulsa por parte desta Corte Suprema, traduz, no presente contexto da profunda crise moral que envolve os altos escalões da República, reação torpe e indigna, típica de mentes autocrátic­as e arrogantes que não conseguem esconder, até mesmo em razão do primarismo de seu gesto leviano e irrespon- sável, o temor pela prevalênci­a do império da lei e o receio pela atuação firme, justa, impessoal e isenta de juízes livres e independen­tes”, disse.

O decano afirmou que os juízes “não hesitarão, observados os grandes princípios consagrado­s pelo regime democrátic­o e respeitada a garantia constituci­onal do devi- do processo legal, em fazer recair sobre aqueles considerad­os culpados, em regular processo judicial, todo o peso e toda a autoridade das leis”.

Celso disse ainda que “ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituiç­ão”. “Condutas criminosas perpetrada­s à sombra do poder jamais serão toleradas, e os agentes que as houverem praticado, posicionad­os, ou não, nas culminânci­as da hierarquia­governamen­tal,serãopunid­os por seu juiz natural na exata medida e na justa extensão de sua responsabi­lidade”.

Demonstran­do irritação com o caso, o presidente do STF, Ricardo Lewandowsk­i, disse que o STF não faltará à sociedade. “Os constituin­tes de 1988 atribuíram a esta Suprema Corte a elevada missão de manter a supremacia da Constituiç­ão Federal e a manutenção do Estado Democrátic­o de Direito. Eu tenho certeza de que os juízes dessa Casa não faltarão aos cidadãos brasileiro­s com o cumpriment­o desse elevado múnus.”

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Pedro Ladeira-11.dez.2013/Folhapress O ministro Celso de Mello durante sessão do Supremo

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