Folha de S.Paulo

GOVERNO SITIADO Lava Jato reage e vê guerra nas ‘sombras’

- GRACILIANO ROCHA JULIANA COISSI

DE CURITIBA

Em discurso duro em frente à sede da Justiça Federal de Curitiba, o coordenado­r da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, disse que as intercepta­ções telefônica­s que envolvem o ex-presidente Lula e a presidente Dilma mostram “a extensão do abuso de poder” e evidenciam uma “guerra desleal travada nas sombras”.

A fala do procurador ocorreu momentos após a presidente Dilma ter criticado a atuação do juiz Sergio Moro em discurso no Planalto.

A atuação da Lava Jato tem sido alvo de críticas de petistas, integrante­s do governo federal, sindicatos e simpatizan­tes de Dilma e de Lula.

“As tentativas de amedrontar policiais federais, auditores da Receita Federal, pro- curadores da República e o juiz federal Sergio Moro devem ser repudiadas”, disse.

“Os atentados à investigaç­ão revelam a extensão do abuso de poder e do descaso com o estado democrátic­o de direito na República”, completou Deltan, em frente à sede local da Justiça Federal.

Sem citar nominalmen­te Lula e Dilma, que foram apanhados em grampo que indica ação do Planalto para evitar prisão do ex-presidente, Dallagnol falou por três minutos para cerca de duas centenas de funcionári­os da Justiça e manifestan­tes anti-PT, que lotaram o pátio de aces- so ao prédio onde são julgadas as ações da Lava Jato.

“As conversas telefônica­s constituem evidências de obstrução das investigaç­ões em uma guerra desleal e subterrâne­a, travada nas sombras longe dos tribunais”, afirmou o procurador, ladeado por outros investigad­ores da Lava Jato e um representa­nte da associação de juízes federais do Paraná.

Na interpreta­ção dos investigad­ores, tanto na conversa com Dilma quanto nos diálogos com o também ministro Jaques Wagner e outros interlocut­ores petistas, Lula agiu para atrapalhar as apurações e tentou intimidar Moro.

Ele defendeu a legalidade das escutas, afirmando que elas foram autorizada­s pelo juízo 13ª Vara da Justiça Federal. Ao final do discurso, a pequena multidão repetia gritos de “justiça” e “Sergio Moro”.

Pouco antes, o vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Paraná, Nicolau Konkel, leu uma nota em apoio ao juiz da Lava Jato.

“Estamos vigilantes e atentos a tentativas temerárias de ingerência nas decisões judiciais por outros meios que não os estabeleci­dos na ordem jurídica e rechaçamos com veemência qualquer ameaça dirigida a membros do Poder Judiciário”, diz trecho do texto lido pelo juiz.

Indagado mais tarde, Konkel não quis dar um exemplo concreto do que seria a ameaça dirigida a membros do Judiciário, citada na nota.

Moro não compareceu ao ato em sua defesa.

Os primeiros manifestan­tes começaram a chegar em frente ao prédio onde fica o gabinete de Sergio Moro por volta das 9h30. Ficaram reunidos na praça do outro lado da rua. Por volta das 11h30, o protesto começou a engrossar.

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Juízes federais realizam ato em defesa de Sergio Moro, em frente ao prédio da Justiça Federal em Curitiba, nesta quinta
Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress Fala de coordenado­r da força-tarefa ocorreu após críticas de Dilma e de petistas à atuação deles e do juiz Moro Juízes federais realizam ato em defesa de Sergio Moro, em frente ao prédio da Justiça Federal em Curitiba, nesta quinta

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