Na relação com a imprensa, segue a lua de mel com os grandes meios, que passaram
“Há anos que não via essa estrada tão movimentada”, contou à Folha Midonio Suaréz, que trabalha num posto de gasolina na estrada que leva a Córdoba. Ao longo da rota se vê movimento intenso de entra e sai nas propriedades.
“Todos os fazendeiros que guardavam seu estoque para vender depois que trocasse o governo estão agora esvaziando os armazéns”, disse Sergio Serrano, motorista que levava uma carga de soja para ser exportada a partir do porto de Rosário.
Logo após assumir a Presidência há exatos cem dias, Mauricio Macri retirou impostos de vários produtos agropecuários e reduziu o da soja, um dos principais produtos de exportação argentinos.
A imagem de caminhões cheios de mercadoria em Córdoba exemplifica o entusiasmo de exportadores, empresários e do mercado com a troca de mando na Argentina.
A animação é embalada pelos elogios que publicações estrangeiras, como a britânica “The Economist”, fazem às primeiras medidas de Macri.
Melhorar a economia, destravando exportações e trazendo de volta os investimentos estrangeiros, é prioridade de sua gestão. Mas, com as primeiras ações, também surgiram as primeiras dificuldades. DESAFIOS O principal e mais imediato desafio é conter a inflação. Segundo consultoras independentes, o índice já passa de 35%. Não há dados oficiais, uma vez que o Indec (o IBGE argentino) havia sofrido intervenção durante a administração Kirchner.
Quando assumiu, Macri prometeu reorganizar o órgão e devolver-lhe a autono- mia. Mas o governo anunciou que, por conta da reforma, novos números oficiais só sairão em setembro.
“A verdade é que ninguém mais sabe o preço de nada”, diz Maria Ester, dona de um café em Palermo, enquanto elenca a variedade de valores que pode custar, no próprio bairro portenho, um tradicional café com medias lunas.
Outro desafio será conter a desvalorização do peso causada pelo fim do cerco ao dólar. O câmbio oficial, em dezembro, vendia a moeda norte-americana por 9 pesos. Agora, o dólar pode ser comprado por 15, com o governo injetando dinheiro constantemente para impedir que ultrapasse os 16 pesos.
Fora da área econômica, o grande desafio de Macri tem sido chegar à prometida conciliação da sociedade, ou o fim da chamada “grieta”, acentuada durante o kirchnerismo.
Uma série de demissões em estatais, porém, tem levado oposicionistas às ruas e elevado o nível de tensão no Congresso, de maioria peronista.
O governo diz que os demitidos são “nhoquis” —funcionários públicos que não trabalham. Líderes sindicais e de esquerda, como Nicolás Del Caño, dizem que Macri não teve tempo para avaliar corretamente os funcionários e que as demissões foram políticas.
Enquanto isso, o presidente assiste ao rearranjo de sua base de apoio. O peronismo continua dividido: sua ala mais à direita permanece ao lado do presidente; a ala mais à esquerda parte para o questionamento aberto.
Algumas das lideranças que o apoiaram no segundo turno, como Sergio Massa, Elisa Carrió e Margarita Stolbizer já se distanciam e fazem críticas a suas medidas.
LUA DE MEL a fazer uma cobertura favorável de Macri assim que perceberam suas chances reais de vencer o kirchnerismo.
A nova gestão retribuiu, liberando concessões de TV do Grupo Perfil, permitindo que o Grupo Clarín comprasse a Nextel e distribuindo entre emissoras privadas alinhadas partes do Fútbol para Todos, projeto de Cristina Kirchner que havia estatizado todas as transmissões de futebol.
O futuro do governo Macri depende da economia. Se de fato conseguir atrair o investimento estrangeiro e estimular as exportações ganhará prestígio internacional e garantirá o apoio interno.
Se o argentino médio, porém, sentir que a inflação continua aumentando e que o dinheiro de seu bolso vale cada vez menos, o presidente arrisca sofrer uma queda de popularidade —que já está ocorrendo—, mais acentuada, com impacto em suas condições de governabilidade. Medidas e promessas Demissões 20 mil servidores públicos, segundo sindicatos; governo fala em 6 mil Exportação Retirou impostos de produtos agropecuários, reduziu da soja Reformas Propôs reforma na regulação da atividade de juízes, pacote anticorrupção e medidas contra o narcotráfico
Desafios à frente Inflação 35%, segundo consultoras independentes Crédito Aprovação final do projeto para pagar os "fundos abutres" Conciliação Congresso tem maioria peronista; presidente é criticado por demissões e a desvalorização do peso Desvalorização da moeda (desde dezembro)
DE BUENOS AIRES
Em sua visita a Buenos Aires, o presidente dos EUA, BarackObama,anunciará um “amplo esforço” para tornar públicos os documentos americanos relacionados à última ditadura argentina (1976-1983).
O anúncio deverá ser feito em 24 de março —data do aniversário de 40 anos do golpe de Estado contra Isabelita Perón— no parque da Memória. No local, o dirigente homenageará as vítimas da ditadura.
Cerca de 4.000 papéis antes confidenciais já tiveram seu sigilo levantado pelos EUA. Esta, porém, será a primeira vez que documentos militares e da agência de inteligência deverão ser liberados, disse Susan Rice, assessora de segurança nacional de Obama.
Rice afirmou que a decisão foi tomada após pedido do governo argentino. Em fevereiro, o presidente Mauricio Macri havia recebido essa demanda de associações de familiares que perderam seus parentes durante a ditadura.
Na quinta (17), o jornal “New York Times” publicou um editorial pressionando os EUA a divulgar os papéis: “Ele [Obama] deveria prometer que Washington revelará de modo mais completo seu papel nesse capítulo negro da história argentina”.
O anúncio deverá amenizar as pressões dos movimentos de direitos humanos, que criticaram a visita coincidindo com a data de aniversário do golpe.
Após as reações negativas, a agenda de Obama na Argentina já foi alterada pelo menos duas vezes.
Protestos de familiares das vítimas e de partidos políticos de esquerda costumam ocorrer no dia 24 para relembrar o golpe.
Para evitar incidentes, a Casa Branca decidiu marcar uma visita do mandatário a Bariloche, que já recebeu outros dirigentes dos EUA, como Bill Clinton, em 1997. A viagem deverá ocorrer após a homenagem às vítimas.