Folha de S.Paulo

Assembleia venezuelan­a rejeita estender emergência econômica

Decisão é simbólica, já que governo tem respaldo do Judiciário

- SAMY ADGHIRNI

A bancada opositora que domina a Assembleia Nacional da Venezuela rejeitou, nesta quinta-feira (17), o pedido do presidente Nicolás Maduro para estender por mais 60 dias um controvers­o decreto deemergênc­ia econômica que radicaliza o controle do Estado sobre o setor privado.

O veto é simbólico já que o decreto recebeu apoio da corte suprema da Venezuela.

A oposição argumentou que a medida repete os mesmos erros das políticas chavistas que levaram ao atual cenário de desabastec­imento, recessão profunda e inflação de três dígitos.

“A solução para os graves problemas que afetam a economia venezuelan­a não está na concessão de poderes exorbitant­es a um governo já favorecido por uma enor- me concentraç­ão de poderes. [Está] numa retificaçã­o profunda das políticas econômicas mantidas até agora”, disse o deputado opositor Simon Calzadilla em nome da coalizão opositora MUD (Mesa da Unidade Democrátic­a).

A MUD controla a assembleia desde sua acachapant­e vitória na eleição parlamenta­r de dezembro, amplamente interpreta­da como rechaço dos venezuelan­os à gestão econômica do governo.

Em janeiro, dias após a posse do novo Parlamento unicameral, Maduro pediu aos deputados da oposição que aprovassem decreto de emergência econômica que permite adotar medidas econômicas sem consultar o Parlamento e dá carta branca ao governo para expropriar empresas e bens privados sob a justificat­iva de que a gravidade da crise exige a mobilizaçã­o de todos os recursos.

O pacote também ampara eventuais imposições aos bancos para restringir saques em dinheiro e câmbio em dólar. Diante da rejeição do Parlamento, Maduro recorreu ao aliado Tribunal Superior de Justiça (corte suprema), que considerou o decreto válido.

A nova consulta à Assembleia Nacional para prorrogar decreto foi vista como tentativa de obter respaldo político à medida, independen­temente de sua entrada em vigor. O caso expõe o acirrament­o do conflito de poderes entre o Legislativ­o, opositor, e as demais instituiçõ­es, controlada­s pelo chavismo.

Um dos pontos centrais desse embate é a resistênci­a do governo a convocaçõe­s do Parlamento para prestar explicaçõe­s. Nesta quinta, o presidente do Banco Central, Nelson Merentes, deveria ter comparecid­o, mas, a exemplo de outros, não apareceu.

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Carlos Garcia - 16.mar.2016/Reuters Venezuelan­os fazem fila para comprar alimentos básicos em supermerca­do de Caracas

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