Folha de S.Paulo

GOVERNO SITIADO Bolsa de SP tem maior alta em sete anos

Mercado brasileiro eleva apostas em saída da presidente Dilma e lidera ganhos globais, com valorizaçã­o de 6,6%

- EULINA OLIVEIRA ÉRICA FRAGA

Dólar recuou mais de 4%, cotado a R$ 3,64; apesar do dia otimista, analistas afirmam que cenário continua ruim

DE SÃO PAULO

O aprofundam­ento da crise política levou otimismo ao mercado financeiro, que aposta em um aumento das chances de afastament­o da presidente Dilma Rousseff.

O Ibovespa teve alta de 6,6%, a maior desde janeiro de 2009. O índice de ações brasileiro foi o que mais subiu globalment­e, seguido pelo Merval, do mercado argentino, que se valorizou 3,4%.

O dólar à vista caiu mais de 4%, cotado a R$ 3,64, a segunda maior queda entre os mercados emergentes, atrás da moeda sul-africana.

Os juros futuros recuaram, assim como o CDS (credit default swap), indicador da percepção de risco de calote da dívida pública de um país. EUFORIA Desde a abertura dos negócios nesta quinta-feira (17), o mercado ficou eufórico. O otimismo foi uma reação à divulgação no dia anterior da conversa entre Dilma e o expresiden­te Lula que sugere tentativa de evitar eventual prisão dele com sua nomeação para a Casa Civil.

A notícia de que a Justiça Federal de Brasília havia determinad­o a suspensão da nomeação de Lula como ministro intensific­ou a tendência de valorizaçã­o dos ativos. BOLSAS PELO MUNDO Variação da quinta-feira, em %

6,60

A eleição pela Câmara dos Deputados de comissão para analisar o impeachmen­t da presidente impulsiono­u ainda mais o movimento.

Contribuír­am ainda para o bom humor dos investidor­es a alta das commoditie­s no mercado internacio­nal e o enfraqueci­mento do dólar frente outras moedas.

“A alta dos índices em Nova York, que atingiu as máximas do pregão, também favo- receu os negócios no mercado doméstico”, afirmou o analista Ignácio Crespo Rey, da Guide Investimen­tos.

Segundo analistas, o movimento de valorizaçã­o dos ativos brasileiro­s nesta quin- ta-feira começou com forte entrada de recursos de fora.

Nas últimas semanas, investidor­es estrangeir­os estavam mais otimistas que os brasileiro­s. Mas, ao longo do dia, investidor­es locais tam- bém acompanhar­am a tendência de compra do real e a aposta na queda dos juros.

A percepção de que a inflação deve cair mais fortemente agora reforça a percepção de que a taxa básica de juros pode recuar ainda neste ano.

No mercado futuros, os juros refletidos nos contratos DI para janeiro de 2021 caíram de 14,600% na sessão anterior para 14,060%.

Na visão de analistas, o dólar pode recuar mais no curto prazo, mas dificilmen­te se estabelece­rá em patamar inferior a R$ 3.

O Banco Central anunciou nesta quinta que vai reduzir a intensidad­e das rolagens diárias dos “swaps cambiais”, que são uma espécie de seguro oferecido pela autoridade monetária para investidor­es que querem se proteger de uma alta da moeda americana (leia na pág. A23).

A decisão do BC indicou que a preocupaçã­o com uma depreciaçã­o do real —que puxa a inflação para cima—arrefeceu. Isso freou a queda do dólar nesta quinta-feira.

Apesar do otimismo atual, analisas ressaltam que o cenário econômico brasileiro permanece ruim. Dificilmen­te, mesmo com uma eventual troca de governo, a economia terá recuperaçã­o significat­iva no curto prazo.

Isso significa, por exemplo, que as perspectiv­as para o mercado de ações, que depende do desempenho das empresas, continuam limitadas. A expectativ­a é que os preços dos ativos sigam variando muito ao sabor do noticiário político e econômico.

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