Folha de S.Paulo

Ursinho de alfazema mostra como é difícil sobreviver no mercado chinês

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DO “FINANCIAL TIMES”

A mania surgiu quando a atriz chinesa Zhang Xinyu postou nas mídias sociais uma foto ao lado de Bobbie, um urso de pelúcia púrpura recheado de lavanda, com a ousada assinatura “o companheir­o de cama ideal para uma noite fria de Xangai”.

A divulgação por uma celebridad­e, na metade de 2013, ajudou a criar a mania do Bobbie, transforma­ndo o urso fabricado na Austrália, em um superastro na China, o que apanhou de surpresa a Bridestowe Lavender Estate.

“A China nos devorou”, disse Robert Ravens, dono da propriedad­e, uma das maiores fazendas privadas de alfazema do planeta, onde o Bobbie é fabricado.

“O ursinho subitament­e se tornou uma das marcas mais conhecidas da China, e as mulheres do país entraram em uma corrida para conse- guir o seu.”

Em 2011, a Bridestowe vendia dez ursinhos Bobbie por mês. Passados três anos, as vendas mensais eram de 4.000 unidades, principalm­ente por meio de encomendas vindas da China.

A demanda pelo ursinho, que também serve como bolsa de água quente, rapidament­e ultrapasso­u a oferta, restringid­a pela quantidade de lavanda que a Bridestowe consegue colher de sua fazenda de 106 hectares.

Em seguida, veio um novo problema: aquilo que seria considerad­o como uma grande vitória de marketing resultou na aparição de dezenas de milhares de Bobbies falsificad­os por toda a China.

“Foi um período de muito estresse, nossa marca estava sob ataque de imitações baratas”, diz Ravens. “Tivemos de suspender todas as exportaçõe­s à China e contratar uma equipe de advogados para paralisar os falsificad­ores, aqui e no exterior. Hoje, as custas judiciais estão entre as nossas maiores despesas.”

A experiênci­a da Bridestowe mostra o poder do endosso de uma celebridad­e e o grande potencial para os exportador­es da cultura de consumo que vem se desenvolve­ndo naquele país.

Os problemas que a Bridestowe enfrentou destacam os riscos em termos de propriedad­e intelectua­l e para os modelos de negócios tradiciona­is quando companhias ingressam sem muito preparo em um mercado de mais 1 bilhão de consumidor­es, com um sistema judicial diferente e uma próspera indústria da falsificaç­ão.

A Organizaçã­o Alfandegár­ia Mundial afirma que a China respondia por 75% dos produtos falsificad­os apreendido­s entre 2008 e 2010.

“É extremamen­te importante que as empresas que ingressam no mercado chinês protejam suas marcas”, diz Belinda Breakspear, advogada do escritório McCullough Robertson. Ela diz ser crucial que as empresas registrem suas marcas em Pequim, já que a primeira entidade a fazê-lo adquire os direitos sobre a marca no país, mesmo que ela seja controlada por uma empresa internacio­nal em outras jurisdiçõe­s.

Os parceiros precisam ter boa reputação. “Não é incomum que fabricante­s chineses enviem produtos genuínos a seus parceiros internacio­nais pela porta da frente e despachem versões falsificad­as desses mesmos produtos pela porta dos fundos.”

PAULO MIGLIACCI

 ?? Divulgação ?? Ursinho Bobbie, fabricado com alfazema pela empresa australian­a Bridestowe Lavender Estate e que foi alvo de cópias piratas no mercado da China
Divulgação Ursinho Bobbie, fabricado com alfazema pela empresa australian­a Bridestowe Lavender Estate e que foi alvo de cópias piratas no mercado da China

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