Folha de S.Paulo

Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose­s.

- MARCELO TOLEDO

DE RIBEIRÃO PRETO

Em meio ao avanço da dengue, o Ministério da Saúde e a maioria dos Estados desconhece­m os sorotipos da doença em circulação na maior parte do país.

O mais recente boletim do governo federal sobre a doen- ça aponta que, até 6 de fevereiro, 18 Estados e o Distrito Federal não haviam enviado informaçõe­s sobre os subtipos do vírus.

Esse dado é importante tanto para quem já teve dengue se tratar como para que os governos definam políticas públicas de combate à doença.

Na primeira vez que uma pessoa é contaminad­a, fica imune àquele tipo, mas não aos demais. A cada infecção por um subtipo diferente, o risco de desenvolve­r formas mais graves, como a hemorrágic­a, aumenta em 12 vezes, explica o infectolog­ista Artur TIPO 1 O Ministério da Saúde afirma que o envio dos dados dos Estados à União não é obrigatóri­o, mas importante para que se saiba a abrangênci­a dos sorotipos.

Os únicos oito Estados que transmitem a informação são: Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e São Paulo.

Nesses locais, o tipo 1 de dengue é o predominan­te, segundo o Ministério da Saúde. Das 145 amostras de isolamento viral considerad­as positivas, 141 são desse tipo.

O dado está longe do total de casos —segundo o Ministério da Saúde, o país registrou em janeiro 170 mil casos “prováveis” de dengue.

Das unidades da federação que não enviam o dado, oito disseram à Folha não terem registros —ou porque não houve análise ou porque ainda não receberam resultados.

Alegam terem priorizado casos de zika, que vêm sendo associados à microcefal­ia, ou não terem estrutura nos municípios para o exame, que é mais sofisticad­o.

Cinco Estados informaram os dados à reportagem. Segundo eles, também o tipo 1 da doença prevalece.

Em 2015, das 9.429 amostras enviadas pelos Estados considerad­as positivas, 94,1% eram do tipo 1 e 4,8%, do 4.

“A sorotipage­m é importante, pois a dengue segue sendo a mais letal das doenças transmitid­as pelo mosquito”, afirma Rodolfo Telarolli, docente de saúde pública da Unesp Araraquara.

Em 2015, o país registrou o óbito de 863 pessoas em decorrênci­a da dengue.

Outros fatores citados como críticos para o combate à doença são os cortes de investimen­tos em 2015 e diagnóstic­o deficiente. “A falta de kits é seríssima, leva ao diagnóstic­o clínico e expõe a fragilidad­e da atenção às doenças. É preciso saber se é dengue mesmo, zika ou chikunguny­a. E, se for dengue, que sorotipo é”, diz Timerman.

Em São Paulo, 98% dos casos de 2015 eram do sorotipo 1e atendência­semantémne­ste ano, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde.

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