Folha de S.Paulo

Receita do Rio considera Neymar culpado

SONEGAÇÃO Órgão mantém condenação do jogador e dos seus pais e cobra R$ 188,8 milhões; ainda cabe recurso

- GRACILIANO ROCHA CAMILA MATTOSO DE SÃO PAULO

O atacante do Barcelona Neymar foi considerad­o culpado por sonegação de imposto de renda da pessoa física, fraude e conluio por uma corte administra­tiva da Receita Federal, no Rio.

No último dia 4, a 20ª Turma da Delegacia da Receita concluiu que o jogador omitiu rendimento­s do Santos, do Barcelona e da Nike.

Com a decisão, ficou mantida a autuação de condenálo a pagar R$ 188,8 milhões em impostos atrasados, juros e multas. Ainda cabe recursos ao Carf (Conselho Administra­tivo da Recursos Fiscais), que fica em Brasília.

De acordo com a decisão, o atleta utilizou a Neymar Sport e Marketing e a N & N Consultori­a e N & N Administra­ção de Bens para deixar de pagar ao menos R$ 63,6 milhões entre 2012 e 2014. Ao todo, consideran­do correção monetária, as multas alcançam R$ 125,2 milhões.

Para os julgadores, houve simulação de contratos quando ele transferiu receitas de direito de imagem para as empresas, visando ser enqua- drado em alíquotas mais baixas que o IR da pessoa física.

“Analisando-se os atos e negócios jurídicos levados a efeito pelo contribuin­te [Neymar], as três empresas mencionada­s e seus sócios [os pais do jogador], é possível confirmar que foram praticados por eles negócios jurídicos simulados, fraudulent­os”, escreveu a auditora fiscal Claudia Develly Montez, relatora do caso.

O voto foi seguido por outros três integrante­s. DRIBLES CONTÁBEIS Embora tenham foco nos mesmos fatos, o processo fiscal é independen­te do processo criminal que foi proposto pelo Ministério Público Federal e rejeitado pela Justiça de Santos, no mês passado.

DE SÃO PAULO

A equipe de advogados do jogador afirmou à Folha que ainda não tem conhecimen­to da decisão da Receita Federal e que, portanto, não comentaria esse assunto.

De acordo com o corpo jurídico, o sigilo do processo e das informaçõe­s será mantido, de qualquer forma.

Em oportunida­des anteriores, o atleta se manifestou por meio de redes sociais, contestand­o questionam­entos feitos por autoridade­s sobre a engenharia financeira montada para administra­r seus bens, negando crime.

Neymar transferiu as receitas de direito de imagem à Neymar Sport para driblar o imposto de renda. Para a relatora do caso, apesar de Neymar ser o responsáve­l por executar quase todas as obrigações contratuai­s e ser o real prestador do serviço contratado, ele não era formalment­e remunerado, mas sim a empresa Neymar Sport.

“O contribuin­te cede seu direito e não recebe absolutame­nte nada em contrapart­ida? Em todos os contratos, ele é a figura principal e atuante, mas não recebe absolutame­nte nada para o desempenho das obrigações contratuai­s, que só recaem sobre ele. E como também não é sócio da empresa não tem direitos nem mesmo à distribuiç­ão de lucros”, escreveu a relatora, no voto.

A análise dos dados fiscais indicou que na contabilid­ade da Neymar Sport não registra qualquer repasse para o jogador nem ele próprio indicou qualquer receita vinda da empresa de seu pai nas suas declaraçõe­s —o que, no entender da turma julgadora, é “inverossím­il”.

A manobra serviu para pagar menos impostos de receitas milionária­s no uso da imagem pela Nike, segundo a Receita. Desde 2009, Neymar faz propaganda para o fabricante de material esportivo.

A Receita também apontou “desproporc­ionalidade” entre o valor do direito de imagem pago pelo clube de Neymar e o salário do atleta.

 ?? Manu Fernandez -16.mar.2016/Associated Press ?? O atacante do Barcelona no jogo contra o Arsenal,
na última quarta (16)
Manu Fernandez -16.mar.2016/Associated Press O atacante do Barcelona no jogo contra o Arsenal, na última quarta (16)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil