CRÍTICA Sem radicalismos, programa LGBT dá um tapão na caretice
‘Estação Plural’, da TV Brasil, terá seu terceiro episódio exibido hoje às 23h
“Tô cansado de tanta babaquice, tanta caretice, dessa eterna falta do que falar”, cantou Cazuza nos anos 1980. Se estivesse vivo, imagine o que diria hoje.
Em um momento em que o conservadorismo envenena o debate de ideias e reforça o ódio e o preconceito, eis que um sopro de tolerância surge na TV —aberta— brasileira: “Estação Plural” é um alento em prol da diversidade.
Esta se dá logo de cara na escolha do trio de apresentadores, todos ligados ao universo LGBT: a cantora e compositora Ellen Oléria é negra e lésbica, Mel Gonçalves, da banda Uó, transexual, e Fernando Oliveira (Fefito), gay.
Enquanto Mel vai ganhan- do confiança e espaço na atração, Fefito parece ainda não ter percebido que o entrevistador, mais do que falar e gesticular, deve saber ouvir.
Quem demonstra ter esse talento é Ellen, a vencedora do “The Voice Brasil” em 2012, que desfila com desenvoltura ao receber os convidados. Carismática, está à vontade em cena e conduz bem o roteiro do programa, elaborado pela jornalista Ana Ribeiro, colaboradora desta Folha. CONVIDADOS “Estação Plural” não se atém a temas típicos do “mundinho gay”. Com leveza, põe no ar debates de interesse geral alternando conversas no estúdio com entrevistas nas ruas.
O convidado do terceiro programa, nesta sexta (18), é o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), o político mais atuante na causa LGBT. Estão ainda na agenda do trio a cineasta Anna Muylaert e o cantor Ney Matogrosso.
Na estreia (4), ao discutir temas como avanços científicos na explicação da homossexualidade e da transgeneridade, o médico Drauzio Varella, colunista da Folha, afirmou que a ciência está próxima de comprovar que o que define biologicamente a sexualidade é a herança genética.
Ao falar sobre “prazeres culpados” e algo mais, Bruna Lombardi esbanjou simpatia na sexta (11). Encarnou o guru: saiu dando dicas para os apresentadores e, de quebra, para o público.
Um dos momentos mais divertidos do programa é um quadro em que os apresenta- dores testam o conhecimento de “pajubá” do convidado.
O “pajubá” é uma espécie de dialeto baseado em línguas africanas e usado pela comunidade LGBT. Bruna Lombardi, por exemplo, não soube responder o que é “ocó”, termo equivalente ao já popular “peguete”.
Num país em que bandeiras de Bolsonaros e Felicianos tremulam em meio ao clamor pela ética, pela justiça e pela democracia, aprender um pouco de “pajubá”, para além da diversão, pode ser um meio de dar visibilidade à pluralidade de gênero e de pontos de vista. NA TV Estação Plural QUANDO sextas, às 23h (reprises às seg., meia-noite), na TV Brasil AVALIAÇÃO ótimo