Folha de S.Paulo

Campanhas franciscan­as

- HÉLIO SCHWARTSMA­N

SÃO PAULO - A eleição para prefeitura­s e câmaras municipais deste ano será atípica. Deveremos ter campanhas bem mais modestas que as verificada­s em pleitos anteriores.

São dois os motivos para o redimensio­namento. O primeiro é a decisão do STF que baniu doações de empresas. Em condições normais, esse tipo de medida teria eficácia parcial. Proibições raramente resultam no fim da atividade que se deseja banir. No mais das vezes, elas fazem com que a prática procure outros caminhos. No caso, seriam as doações de pessoas físicas, que continuam legais, ou o caixa dois. Não é do meu feitio comprar pelo valor de face declaraçõe­s de marqueteir­os, mas acredito em João Santana quando diz que 98% das campanhas no Brasil usam caixa dois.

Este ano, porém, as coisas tendem a ser diferentes. A Lava Jato, nosso segundo motivo, não apenas faz com que autoridade­s fiquem muito mais atentas às doações como também colocou em sérias dificuldad­es financeira­s várias das empresas que tinham o hábito de despejar grandes somas em candidatur­as.

Há razões, portanto, para acreditar que, desta vez, as campanhas terão mesmo de adequar-se a orçamentos franciscan­os. E eu penso que isso é bom. É verdade que candidatos enfrentarã­o maior dificuldad­e para fazer-se conhecer pelo eleitor e para apresentar suas ideias. Os programas do horário gratuito também tenderão a ficar menos interessan­tes, o que talvez faça com que o cidadão vote com menos informação.

Apesar disso, acho que vale a pena tentar impor campanhas substancia­lmente mais baratas. Fazê-lo tende a diminuir a influência do poder econômico sobre políticos, o que me parece mais importante do que promover o tal de voto consciente, que não passa de uma quimera mesmo.

A má notícia é que em 2018 a conjunção de fatores que leva à seca de doações já deverá ter enfraqueci­do e as coisas estarão voltando ao normal. helio@uol.com.br

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