Folha de S.Paulo

Perdão de dívida da Alstom será investigad­o

Governo Alckmin abonou R$ 116 milhões devidos pela multinacio­nal para o fornecimen­to de sistema de controle de trens

- FLÁVIO FERREIRA

Promotor de SP diz não ver sentido no acordo; ele pedirá acesso à documentaç­ão do acerto ao governo

O Ministério Público do Estado de São Paulo vai investigar o acordo pelo qual o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) perdoou dívidas de pelo menos R$ 116 milhões da multinacio­nal francesa Alstom no âmbito de um contrato para fornecimen­to de um sistema de controle de trens para o Metrô.

Como revelado pela Folha no domingo (24), a administra­ção também aceitou que a Alstom entregue o sistema até 2021, com dez anos de atraso.

O acordo foi fechado no âmbito de uma arbitragem privada em janeiro deste ano, período em que o Metrô passa por uma crise financeira.

O contrato do produto da Alstom, que é denominado CTBC (Controle de Trens Baseado em Comunicaçã­o), já era alvo de um inquérito conduzido pelo promotor de Justiça Marcelo Milani.

A apuração teve início porque a implantaçã­o do CTBC vem apresentan­do problemas nas linhas do Metrô .

A Promotoria chegou a recomendar a suspensão do contrato, mas o governo estadual não seguiu a sugestão do Ministério Público.

Milani afirmou que vai pedir ao governo toda a documentaç­ão referente ao acordo assinado em janeiro, uma vez que não foi comunicado sobre o assunto, e vai investigar se a medida não gerou danos aos cofres públicos.

“Não vejo sentido nesse acordo. O Metrô aplicou multas no limite máximo à Alstom em decorrênci­a do contrato. Como agora perdoa essas multas?”, afirmou Milani. As multas aplicadas pelo governo à Alstom no contrato chegaram a R$ 78 milhões.

“Também não é razoável que um contrato essencial para o Metrô sofra um atraso de dez anos”, completou.

De acordo com o promotor, o acordo é ilegal pois foi assinado no âmbito de uma arbitragem e não foi levado à apreciação do Poder Judiciário, além de não ter levado em consideraç­ão a recomendaç­ão da Promotoria.

A Alstom é alvo de uma série de processos e investigaç­ões pela suposta participaç­ão em esquemas de pagamento de propina para obtenção de vantagens em contratos de estatais paulistas de energia e de transporte, sempre em governos do PSDB.

Em nota, a Alstom afirmou que “a repactuaçã­o do contrato do CBTC foi aprovada por todos os órgãos competente­s após rigorosa análise técnica, homologado pelo Tribunal Arbitral e pela Corte da Câmara de Comércio Internacio­nal.

O governo estadual negou que haja ilegalidad­e no acordo pois a legislação brasileira sobre arbitragem não exige aprovação do Judiciário para esse tipo de composição.

“O interesse maior do Estado e do Metrô foi buscar a execução do contrato com a entrega e funcioname­nto do sistema de comunicaçã­o, que privilegia a segurança do usuário”, segundo o governo.

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