Folha de S.Paulo

Com Michelle e artistas, convenção democrata ataca discurso sombrio

Legenda inicia evento com mensagem de que Hillary manterá legado de Obama com ajustes

- MARCELO NINIO

Nomes de peso do partido são escalados para tentar desfazer mensagem negativa pregada por adversário

O Partido Democrata convocou seus nomes de peso na primeira noite da convenção que deve consagrar Hillary Clinton como sua candidata à Casa Branca para, com mensagens de otimismo e tolerância, tentar desfazer o quadro sombrio que Donald Trump pintou um ao ser oficializa­do candidato republican­o, na semana passada.

Após quase oito anos de Barack Obama, Hillary tem o desafio de mostrar que os EUA estão no rumo certo e, ao mesmo tempo, convencer o eleitor que pode promover mudanças esperadas. O equilíbrio é delicado, como ficou claro nesta segunda (25).

Se por um lado Obama segue popular no partido, há ações de seu governo que trazem desconfort­o estampado em cartazes da plateia, como a Parceria Transpacíf­ico, o acordo comercial assinado pelos EUA e outros 11 países.

Discursos como o da senadora Elizabeth Warren não pouparam o tratado de críticas, e, dentro e fora da convenção, na Filadélfia, ativistas deixavam clara a insatisfaç­ão com essa e outras políticas —Hillary, que já foi a favor do acordo quando era secretária de Estado (20092013), hoje é contra.

Mas a missão mais aguardada da noite —exaltar os avanços do presidente e seu período na Casa Branca— coube a quem vive nela: a pri- meira-dama Michelle Obama.

Mais aplaudida do que a longa lista de celebridad­es da noite, que incluiu do cantor Paul Simon à atriz Eva Longoria (de “Desperate Housewives”), Michelle discursou, com exemplos práticos, sobre a personalid­ade que um presidente precisaria ter — com fartos elogios a Hillary e ataques velados a Trump.

Para isso, lembrou das filhas, Malia e Sasha, que tinham 7 e 10 anos quando Obama foi eleito, e da lição passada a elas de que é preciso rejeitar o ódio e não responder a ofensas com mais ofensas, alusão a Trump.

“A linguagem do ódio não representa o espírito deste país”, disse. “Nesta eleição, só há uma pessoa qualificad­a para ser presidente: Hillary Clinton. Estou com ela.” ÍCONE

Michelle virou um ícone cultural em seus anos na Casa Branca, mas é o marido que pode fazer a diferença nesta campanha.

Com a economia em recuperaçã­o e sua popularida­de em alta, Obama é considerad­o um trunfo para Hillary, sobretudo entre jovens e minorias, um certificad­o de abono a seu governo, que pela primeira vez desde 2013 tem mais de 50% de aprovação.

A participaç­ão do presidente, nesta quarta (26), é uma das mais esperados da convenção. Ninguém esquece que há 12 anos, o então senador em primeiro mandato fez um discurso tão marcante na convenção que o catapultou à vitoriosa candidatur­a democrata em 2008.

Desde então ele liderou uma reconfigur­ação do partido, tornando mais progressis­ta e multicultu­ral. Mas também viu, impotente, o país tornar-se ainda mais dividido racial e politicame­nte.

No primeiro dos quatro dias da convenção, os dos discursos rebateram a visão de que o país está à beira do abismo, como prega Trump.

O empresário diz que uma vitória de Hillary será um terceiro mandato para Obama, tentando atrair os votos insatisfei­tos. Se a ideia é transforma­r a eleição de novembro em um referendo sobre Obama, porém, não está claro de que lado ficarão os eleitores indecisos, diz o analista político Ken Goldstein, da Universida­de de São Francisco.

“Não acho que a narrativa sombria de Trump esteja ganhando tantos adeptos”, diz Goldstein. “Mas esta campanha é marcada pela raiva dos americanos com a política, e isso exigirá de Hillary habilidade para propor alternativ­a sem falar mal de Obama.”

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Matt Rourke/Associated Press Michelle Obama acena à plateia ao discursar na Filadélfia

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