Mostra expõe rugas da tecnologia e paradoxos da lógica urbana
Giselle Beiguelman revê experiências digitais em ‘Cinema Lascado’
FOLHA
Em uma sala da Caixa Cultural, no centro de São Paulo, Giselle Beiguelman conta que algumas imagens exibidas em “Cinema Lascado”, ali em cartaz até o fim de setembro, foram captadas com celulares “muito antigos”.
Dez anos foram suficientes para cravar um adjetivo que outrora cairia melhor a um telégrafo. Beiguelman começou a trabalhar com câmeras de celular em 2005, e a linguagem que desenvolveu a partir de então cumpre a constatação inevitável: a tecnologia chega ao mercado já com suas rugas expostas.
Pioneira na produção de obras relacionadas ao sistema binário da era digital, Beiguelman conta que seus primeiros celulares captavam 16 quadros por segundo e operavam por no máximo 30 segundos.
A relação da artista não é apenas com a tecnologia. As ferramentas digitais, como é possível ver na mostras, são usadas para registrar paradoxos da lógica urbanística. Dois elevados —o Minhocão, em São Paulo, e a extinta Perimetral, no Rio— dão volume à ideia que ela define como “estética da obsolescência”.
Em uma das instalações, ouve-se o estampido da demolição da Perimetral, mas som e imagens não sincrônicos. Algo se interpõe entre a formação dessa “cicatriz urbana” e seu registro no celular.
Trata-se de um ruído, ou acidente, provocado pela defasagem dos programas usados para filmar e editar. “A gente esquece que a câmera de celular é um sensor. Ela decodifica a luz e a transforma em um código de cor.”
O que vemos, então, é um trabalho capaz de revelar a codificação. Ainda na mostra, que tem curadoria de Eder Chiodetto, impressões em grande formato exibem outras feridas urbanas.
Há um dado a mais que Beiguelman transporta agora para outra exposição, “Quanto Pesa uma Nuvem?”, no Galpão VB: tornou-se sua marca filmar a paisagem que passa pela janela do carro. Na exposição, Beiguelman exibe um trajeto até o campo de concentração de Auschwitz.
Em uma instalação vizinha, ela narra reflexões não só sobre a viagem e o horror do holocausto, mas também sobre a condição de visitar o país de onde sua família emigrou. Acostumada à ausência de gente em seus retratos, ela define este como seu trabalho de maior exposição pessoal. QUANDO de ter. a dom., das 9h às 19h; até 25/9 ONDE Caixa Cultural, pça. da Sé, 111, tel. (11) 3321-4400 QUANTO grátis QUANDO de ter. a sex., das 12h às 18h, e sáb., das 11h as 17h; até 20/8 ONDE Galpão VB, av. Imp. Leopoldina, 1.150, tel. 11 3645-0516 QUANTO grátis