Folha de S.Paulo

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Epicentro da oposição de artistas ao governo interino de Michel Temer, a ocupação do Palácio Gustavo Capanema, no Rio —primeira instalação do Ministério da Cultura a ser ocupada por manifestan­tes—, acabou na manhã desta segunda-feira (25).

Cerca de 50 agentes da Polícia Federal retomaram o prédio, sede da Funarte (Fundação Nacional de Artes) e do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional).

Artistas e manifestan­tes ocuparam o local em 16 de maio. O ato mobilizou artistas como Caetano Veloso e Erasmo Carlos, e inspirou ações similares em outras partes do Brasil —em poucos dias, prédios culturais da esfera federal foram ocupados em todos os Estados.

Diante de tantos prédios ocupados, Marcelo Calero, ministro da Cultura do governo interino, disse, em entrevista à Folha em 26 de maio, que “de maneira nenhuma” recorreria a um mandado de reintegraç­ão de posse para resolver o impasse.

Entretanto, às 6h da manhã de segunda, os agentes federais expulsaram os manifestan­tes. Eles cumpriam mandado de segurança solicitado pelo MinC na semana passada e expedido na quinta-feira (21) pelo juiz Paulo André Espírito Santo Bonfadini, da 20ª Vara Federal.

“Fui acordada aos gritos por 15 homens armados com metralhado­ras”, conta a terapeuta holística e produtora cultural Adriana Tiuba, 28. “Eles chegaram sacudindo minha barraca e depois me arrastaram de lá.”

“Eu estava nua dentro da barraca. Um policial me arrastou pelada para fora e disse que eu tinha cinco minutos para sair”, afirma a musicista Pabs Izidora, 20. “Ainda ficou me cutucando com a arma.”

Aproximada­mente 50 manifestan­tes estavam no local na hora da chegada da PF. Eles acataram as ordens dos agentes e desceram para o pátio em frente ao edifício. Não

PABS IZIDORA

musicista e manifestan­te houve registro de violência física ou detenções.

Segundo o advogado Rodrigo Mondego, representa­nte do movimento Ocupa MinC, não houve notificaçã­o prévia da reintegraç­ão de posse. Ele diz que os oficiais de Justiça chegaram ao local uma hora após a PF.

Por volta das 11h, entre gritos de “Fora, Temer”, os agentes da PF isolaram as áreas na entrada do edifício como os pilotis, que, desde o início da ocupação, viraram espaço de shows em protesto contra o governo interino.

Mondego diz que os ativistas permanecer­ão em vigília em frente ao prédio, agora cercado por tapumes.

O MinC divulgou nota explicando que pediu a reintegraç­ão de posse para que as obras de reforma do imóvel, tombado pelo patrimônio, possam ter continuida­de e um relatório técnico que descreve danos ao prédio, como pichações num painel com azulejos de Candido Portinari (leia texto ao lado). SÃO PAULO A reintegraç­ão do prédio do Rio ocorre dias depois de a Justiça de São Paulo dar um ultimato aos manifestan­tes que ocupam a sede da Funarte na capital paulista.

No dia 19, o grupo foi informado que teria 15 dias para deixar a instalação gerida pelo Ministério da Cultura.

A Folha esteve na representa­ção da Funarte na segunda e constatou que o segundo andar do prédio já não serve mais como dormitório.

Tadeu de Souza, coordenado­r da Funarte em São Paulo, diz que “algumas pessoas já se foram”.

De acordo com uma portavoz da ocupação identifica­da como Camila, os artistas estão saindo “cada um a seu tempo” e, até o fim do prazo estabeleci­do pela Justiça, “todos terão deixado o prédio”.

Enquanto a moradia no local tem prazo para acabar, a ocupação artística deve prosseguir. O grupo manterá atividades ali, segundo Souza. “A Funarte serve para isso”, diz.

A intervençã­o na Funarte foi solicitada à Justiça em 9 de julho devido a supostas depredaçõe­s no espaço.

Camila nega atos de vandalismo. Diz que, quando chegaram à Funarte, os artistas encontrara­m instalaçõe­s já deteriorad­as, “como escoras de pia enferrujad­as e espelhos apoiados com cortiça e prego”. (ALFREDO MERGULHÃO, FABIO BRISOLLA, GABRIELA SÁ PESSOA, GUSTAVO URIBE E RODOLFO VIANA)

Eu estava nua dentro da barraca. Um policial me arrastou pelada para fora e disse que eu tinha cinco minutos para sair

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