O caminho de Paris passa pelos trópicos
Para manter a liderança na transição para a economia verde, o Brasil terá que praticar uma agricultura neutra em carbono, meta difícil até 2030
Qual é o potencial do Brasil para liderar os países tropicais no caminho de redução de emissões pósAcordo de Paris? Os compromissos acordados na COP21 (conferência do clima da ONU) são insuficientes para manter o aquecimento global abaixo de 2°C e estão ainda distantes da marca de 1,5°C, defendida por muitos cientistas. De toda forma, são metas necessárias, se desejarmos minimizar os enormes riscos das mudanças climáticas.
Dada a alta probabilidade de diminuir a capacidade de oceanos e ecossistemas terrestres absorverem parte do excesso de gás carbônico (CO2) à medida que o aquecimento global se acentua, torna-se essencial que as emissões líquidas globais sejam zeradas até 2050.
A descarbonização da economia global implica um desafio gigantesco. Para fazer a conta fechar, boa parte das reservas de petróleo e quase todas as reservas de carvão do mundo permanecerão inexploradas.
Além de implementação maciça e urgente de sistemas de energia renovável, substituindo energia fóssil, e de novos sistemas para atender à demanda crescente, trajetórias desejáveis de redução de emissões passam necessariamente por reflorestamentos em grande escala e restauração de ecossistemas.
Há ainda o desafio maior de gerar eletricidade em termelétricas e capturar e armazenar o CO2 emitido em poços profundos. A bioenergia, já quase neutra em carbono (o CO2 emitido na queima é, em grande parte, recapturado pelas plantas na fotossíntese), passaria a ter emissões negativas. A maior parte dos cenários compatíveis com a estabilização do aquecimento abaixo de 2°C envolve o uso de emissões negativas.
Países tropicais podem desempenhar papel fundamental para essas metas, implementando agricultura sustentável em larga escala. Emissões diretas da agropecuária e desmatamento respondem por um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa.
Enquanto as emissões brutas advindas de desmatamento caíram 62% nos últimos dez anos, as emissões diretas da agricultura e do setor de energia brasileiros vêm aumentando —responderam por quase 70% do total em 2014.
As emissões líquidas per capita do país já somam 7,5 toneladas de CO2 por ano. No entanto, a quantidade emitida por real no PIB agrícola vem diminuindo: cresceu 4,3% entre 2010 e 2014, enquanto o PIB da agricultura subiu 12%.
Por outro lado, a crise hídrica de 2014/15 exigiu o acionamento de ter- melétricas de energia fóssil, resultando em retrocesso na intensidade de carbono do setor de energia: emissões cresceram 26,6% entre 2010 e 2014, enquanto o PIB nacional cresceu cerca de 10% no período.
Para manter sua liderança na transição para a economia verde, o Brasil terá que desenvolver uma agricultura sustentável e neutra em carbono —uma meta difícil a ser atingida até 2030, com a condição indispensável de zerar o desmatamento, restaurar ecossistemas em grande esca- la e aumentar, até 2015, fontes renováveis de energia em até 80%.
Observando o aumento de emissões de agricultura e energia e avaliando as condições para reflorestar e restaurar, parecem metas irrealistas. Todavia, podem ser realizadas, desde que se acelere o ciclo de transferência de conhecimento para implementação de políticas públicas e de tecnologias, com o auxílio de mecanismos inovadores de financiamento. CARLOS A. NOBRE, MERCEDES BUSTAMANTE,
Democracia se resume a urnas eletrônicas, partidos “legalmente” formados e “três” Poderes? O Carandiru prova que não. Democracia é consequência. A Revolução Francesa não foi causa, foi consequência. Só se deu uma vez, mas nunca será esquecida. O Carandiru, em francês, se chama Bastilha: uma prisão onde o Estado se livra daquilo com que não tem interesse em lidar. Tão óbvio, e ninguém percebe.
MÁRCIO COSTA RODRIGUES
A anulação do julgamento dos policiais militares responsáveis pelo massacre do Carandiru tem um adendo escondido e que continuará impune: Luiz Antonio Fleury Filho.
MARCOS BARBOSA
Judicialização da saúde Muito boa a análise “Sem critérios, desigualdade em saúde tende a aumentar”, de Cláudia Collucci (“Cotidiano”, 29/9). Quem recorre à Justiça, em geral, são as pessoas mais favorecidas.
ROMEU MERHEJ, MÉDICO
Sensato o artigo de Roberto Dias (“Bicho-papão subiu no telhado”, “Opinião”, 29/9). A privatização e as parcerias público-privadas já não são o bichopapão da sociedade. Porém o argumento de que nos últimos 20 anos o governo “caminhou aos trancos e barrancos” se enfraquece quando pensamos quais governos estiveram à frente dos papéis regulatório e fiscalizador. Lula e Dilma aparelharam o Estado, ato típico de governos populistas que não trabalham pela institucionalização do país. A Lava Jato está aí para provar.
YUSSIF ALI MERE JR,
Ao afirmar que ninguém quer aparecer ao lado do presidente Michel Temer nas campanhas políticas, Bernardo Mello Franco atribuiu a ele o título de “O grande ausente” (“Opinião”, 29/9). Eu discordo, pois na minha região os candidatos petistas estão correndo é da “estrelinha” e da cor vermelha do partido.
LUIZ ALBERTO M. C. BARROS
Já me habituei a Janio de Freitas com seu samba de uma nota só. Afinal, é um jornalista que tem peso. Porém vejo que até “Mercado”, com Laura Carvalho, insiste no mesmo refrão: a defesa do indefensável. E como não mudar o meu humor com Vanessa Grazziotin logo na página A2?
JORIA TOSCANO DANTAS AUMOND
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