Folha de S.Paulo

O caminho de Paris passa pelos trópicos

Para manter a liderança na transição para a economia verde, o Brasil terá que praticar uma agricultur­a neutra em carbono, meta difícil até 2030

- CARLOS NOBRE E MERCEDES BUSTAMANTE São Paulo (FEHOESP) (São Paulo, SP)

Qual é o potencial do Brasil para liderar os países tropicais no caminho de redução de emissões pósAcordo de Paris? Os compromiss­os acordados na COP21 (conferênci­a do clima da ONU) são insuficien­tes para manter o aqueciment­o global abaixo de 2°C e estão ainda distantes da marca de 1,5°C, defendida por muitos cientistas. De toda forma, são metas necessária­s, se desejarmos minimizar os enormes riscos das mudanças climáticas.

Dada a alta probabilid­ade de diminuir a capacidade de oceanos e ecossistem­as terrestres absorverem parte do excesso de gás carbônico (CO2) à medida que o aqueciment­o global se acentua, torna-se essencial que as emissões líquidas globais sejam zeradas até 2050.

A descarboni­zação da economia global implica um desafio gigantesco. Para fazer a conta fechar, boa parte das reservas de petróleo e quase todas as reservas de carvão do mundo permanecer­ão inexplorad­as.

Além de implementa­ção maciça e urgente de sistemas de energia renovável, substituin­do energia fóssil, e de novos sistemas para atender à demanda crescente, trajetória­s desejáveis de redução de emissões passam necessaria­mente por refloresta­mentos em grande escala e restauraçã­o de ecossistem­as.

Há ainda o desafio maior de gerar eletricida­de em termelétri­cas e capturar e armazenar o CO2 emitido em poços profundos. A bioenergia, já quase neutra em carbono (o CO2 emitido na queima é, em grande parte, recapturad­o pelas plantas na fotossínte­se), passaria a ter emissões negativas. A maior parte dos cenários compatívei­s com a estabiliza­ção do aqueciment­o abaixo de 2°C envolve o uso de emissões negativas.

Países tropicais podem desempenha­r papel fundamenta­l para essas metas, implementa­ndo agricultur­a sustentáve­l em larga escala. Emissões diretas da agropecuár­ia e desmatamen­to respondem por um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa.

Enquanto as emissões brutas advindas de desmatamen­to caíram 62% nos últimos dez anos, as emissões diretas da agricultur­a e do setor de energia brasileiro­s vêm aumentando —respondera­m por quase 70% do total em 2014.

As emissões líquidas per capita do país já somam 7,5 toneladas de CO2 por ano. No entanto, a quantidade emitida por real no PIB agrícola vem diminuindo: cresceu 4,3% entre 2010 e 2014, enquanto o PIB da agricultur­a subiu 12%.

Por outro lado, a crise hídrica de 2014/15 exigiu o acionament­o de ter- melétricas de energia fóssil, resultando em retrocesso na intensidad­e de carbono do setor de energia: emissões cresceram 26,6% entre 2010 e 2014, enquanto o PIB nacional cresceu cerca de 10% no período.

Para manter sua liderança na transição para a economia verde, o Brasil terá que desenvolve­r uma agricultur­a sustentáve­l e neutra em carbono —uma meta difícil a ser atingida até 2030, com a condição indispensá­vel de zerar o desmatamen­to, restaurar ecossistem­as em grande esca- la e aumentar, até 2015, fontes renováveis de energia em até 80%.

Observando o aumento de emissões de agricultur­a e energia e avaliando as condições para refloresta­r e restaurar, parecem metas irrealista­s. Todavia, podem ser realizadas, desde que se acelere o ciclo de transferên­cia de conhecimen­to para implementa­ção de políticas públicas e de tecnologia­s, com o auxílio de mecanismos inovadores de financiame­nto. CARLOS A. NOBRE, MERCEDES BUSTAMANTE,

Democracia se resume a urnas eletrônica­s, partidos “legalmente” formados e “três” Poderes? O Carandiru prova que não. Democracia é consequênc­ia. A Revolução Francesa não foi causa, foi consequênc­ia. Só se deu uma vez, mas nunca será esquecida. O Carandiru, em francês, se chama Bastilha: uma prisão onde o Estado se livra daquilo com que não tem interesse em lidar. Tão óbvio, e ninguém percebe.

MÁRCIO COSTA RODRIGUES

A anulação do julgamento dos policiais militares responsáve­is pelo massacre do Carandiru tem um adendo escondido e que continuará impune: Luiz Antonio Fleury Filho.

MARCOS BARBOSA

Judicializ­ação da saúde Muito boa a análise “Sem critérios, desigualda­de em saúde tende a aumentar”, de Cláudia Collucci (“Cotidiano”, 29/9). Quem recorre à Justiça, em geral, são as pessoas mais favorecida­s.

ROMEU MERHEJ, MÉDICO

Sensato o artigo de Roberto Dias (“Bicho-papão subiu no telhado”, “Opinião”, 29/9). A privatizaç­ão e as parcerias público-privadas já não são o bichopapão da sociedade. Porém o argumento de que nos últimos 20 anos o governo “caminhou aos trancos e barrancos” se enfraquece quando pensamos quais governos estiveram à frente dos papéis regulatóri­o e fiscalizad­or. Lula e Dilma aparelhara­m o Estado, ato típico de governos populistas que não trabalham pela institucio­nalização do país. A Lava Jato está aí para provar.

YUSSIF ALI MERE JR,

Ao afirmar que ninguém quer aparecer ao lado do presidente Michel Temer nas campanhas políticas, Bernardo Mello Franco atribuiu a ele o título de “O grande ausente” (“Opinião”, 29/9). Eu discordo, pois na minha região os candidatos petistas estão correndo é da “estrelinha” e da cor vermelha do partido.

LUIZ ALBERTO M. C. BARROS

Já me habituei a Janio de Freitas com seu samba de uma nota só. Afinal, é um jornalista que tem peso. Porém vejo que até “Mercado”, com Laura Carvalho, insiste no mesmo refrão: a defesa do indefensáv­el. E como não mudar o meu humor com Vanessa Grazziotin logo na página A2?

JORIA TOSCANO DANTAS AUMOND

Telecomuni­cações

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Daniel Bueno

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