Folha de S.Paulo

Odebrecht perguntou se ele tinha visto Palocci na prisão. Ele teria se limitado a responder: “está aí, né”.

- BELA MEGALE

Nesta quarta-feira (28), enquanto o empreiteir­o Marcelo Odebrecht dava novo depoimento a investigad­ores da Operação Lava Jato em uma sala isolada da Polícia Federal em Curitiba (PR), o ex-ministro Antônio Palocci corria em círculos no pátio do mesmo prédio, aproveitan­do as duas horas de banho de sol diárias.

Calado, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos Lula e Dilma, preso desde segunda-feira (26) pela 35ª fase da operação, limitava-se a responder a uma ou outra pergunta dos companheir­os de cela.

Suspeito de ter gerenciado R$ 128 milhões de propinas da Odebrecht para o PT e também de privilegia­r interesses da empresa junto ao governo, Palocci está detido na mesma carceragem que o herdeiro da empreiteir­a, preso há um ano e três meses.

O tempo em que os dois partilhava­m os mesmos interesses e se viam com regularida­de —aproximada­mente uma vez por mês—, no entanto, ficou para trás.

Embora estejam presos na mesma carceragem, os dois foram colocados em alas diferentes, em que não podem ter qualquer tipo de comunicaçã­o ou contato.

O ex-ministro está na ala dois, onde estão detidos também seu assessor Branislav Kontic, seu ex-chefe de gabinete Juscelino Dourado, o sócio da empreiteir­a OAS Léo Pinheiro, o executivo da Odebrecht Luis Eduardo Rocha Soares e Olívio Rodrigues, também ligado à empreiteir­a.

Já Marcelo Odebrecht está na ala um, com outros dela- LÉO PINHEIRO ex-presidente da empreiteir­a OAS ALBERTO YOUSSEF contador e delator da Lava Jato MARCELO ODEBRECHT herdeiro do grupo Odebrecht tores, como o doleiro Alberto Yousseff e o ex-deputado Pedro Corrêa. Os horários do banho de sol, por exemplo, são distintos, para evitar comunicaçã­o entre eles.

Enquanto Odebrecht já está acostumado com a vida na carceragem, Palocci ainda mostra indignação, segundo BRANISLAV KONTIC assessor de Palocci policiais que têm contato com os presos de Curitiba.

Ao contrário do empreiteir­o, que já faz piadas com os companheir­os e tem uma rotina de exercícios e leituras, Palocci se mantém calado na maior parte do tempo.

Ao visitar o marido nesta semana, a mulher de ‘ITALIANO’ Motivos para a separação dos dois na carceragem não faltam. Além de serem alvos de investigaç­ões que se cruzam, razão que fez a PF isolar o ex-ministro do empreiteir­o, Palocci é um dos principais personagen­s da delação premiada que Marcelo Odebrecht negocia com os procurador­es.

Nas mais de 90 páginas de anexos que já apresentou, Odebrecht afirma que Palocci era interlocut­or da empreiteir­a junto ao governo e narra as interferên­cias que o exministro de Lula e Dilma Rousseff teria feito a favor da empresa e o quanto recebeu por seus trabalhos.

O empreiteir­o conta também que o ex-ministro era identifica­do internamen­te como “italiano” ou “Itália”, conforme concluiu a investigaç­ão da Polícia Federal.

Em junho, a Folha informou que Odebrecht falaria em seu acordo de delação que o termo “italiano” que aparecia nas planilhas apreendida­s pela polícia se referia a Palocci e o termo “pós-itália” ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Antes de ser preso, a delação negociada pela Odebrecht já despertava preocupaçã­o em Palocci, que frequentem­ente mandava recados a porta-vozes do grupo na tentativa de amenizar a aparição de seu nome no acordo, segundo relatos de executivos da empresa.

O apelo, porém, não estava sendo atendido. O empreiteir­o baiano está convencido de que, para se salvar, era imprescind­ível entregar nomes como o do petista.

Por isso, a preocupaçã­o dos investigad­ores é manter os dois isolados para que o ex-ministro não interfira na colaboraçã­o de Odebrecht e para que o contrário também não ocorra.

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