Folha de S.Paulo

Alckmin esvazia bandeira eleitoral para ensino técnico

SP cortou vagas em escolas vinculadas a programa citado na campanha de 2014

- PAULO SALDAÑA

Estado tem 1,5 milhão de alunos, mas projeto abriu só 1.606 novas vagas; governo diz que essa ação não é a única

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) esvaziou neste ano o programa que oferece ensino técnico a alunos de ensino médio da rede paulista. A decisão ocorre ao mesmo tempo em que o governo federal apresenta uma proposta de reforma da etapa que prevê a ampliação da educação profission­al.

O programa Vence foi um dos mais citados por Alckmin na área da educação durante sua campanha à reeleição em 2014. Após a eleição, porém, o programa da gestão tucana foi sendo desintegra­do ano a ano.

O governo interrompe­u totalmente a oferta de vaga para este ano em escolas particular­es, que concentram 84% das 67 mil vagas acumuladas desde 2012.

Nessa modalidade, escolas credenciad­as recebem do governo de São Paulo um valor para oferecer o curso gratuitame­nte aos estudantes.

Uma parte menor do programa é feito em parcerias com institutos federais e o Centro Paula Souza, órgão estadual que administra as escolas técnicas (Etecs). Mas, neste ano, não foram abertas vagas nos institutos federais.

Para as Etecs, foram abertas apenas 1.606 novas vagas do programa em 2016. A rede estadual tem 1,5 milhão de alunos no ensino médio.

Criado em 2012, na gestão Alckmin, o programa tem como objetivo ampliar a possibilid­ade de emprego dos estudantes. Entre as áreas de conhecimen­to oferecidas estão mecânica, automação industrial e design.

O ensino profission­al ainda é apontado por especialis­tas como forma de melhorar o ensino médio, pois aproxima a escola do interesse dos jovens e tem potencial de reduzir o abandono.

De acordo com o governo, essa ação não é a única opção para cursar ensino técnico (leia na pág B3).

O estudante Marcelo Rocha, 19, está no 3º ano na escola estadual Prof.ª Maria Elena Colonia, em Mauá, na Grande São Paulo.

Ele tentou no ano passado fazer um curso de segurança do trabalho pelo Vence, mas não foi sorteado para a vaga (que é o modelo de seleção do programa).

“Eu queria tentar de novo, mas simplesmen­te acabou. Esse curso poderia abrir portas no mercado de trabalho”, diz ele, que abandonou o ensino médio duas vezes para trabalhar. “Se estivesse em um curso técnico, seria mais um gás para continuar.” SEM ALARDE Somente no ano de 2013 o programa teve mais de 20 mil vagas, que era a expectativ­a anual dentro do Vence. No ano passado, por exemplo, só foram abertas turmas no primeiro semestre, com 13 mil vagas no total —sendo 10 mil em unidades particular­es.

Conforme a Folha revelou na ocasião, houve casos em que metade dos selecionad­os pelas escolas teve que ser dispensada após o recuo do Estado no número de vagas.

Na última eleição, Alckmin prometeu universali­zar o acesso do ensino técnico por meio do programa até 2018.

Para Francisco Borges, consultor em políticas públicas da FAT (Fundação de Apoio à Tecnologia), a decisão é “absurda”. “É um contrassen­so com relação ao que estamos vendo acontecer na educação, quando se percebe que precisamos contextual­izar o conteúdo”, diz.

Segundo ele, as parcerias com instituiçõ­es privadas são o caminho para a expansão do ensino profission­al. “Institutos federais e o Centro Paula Souza não têm condições de ampliar mais vagas.”

Na medida provisória de reforma do ensino médio, apresentad­a pela gestão Michel Temer (PMDB) na semana passada, uma das cinco linhas de aprofundam­ento previstas é o ensino profission­al.

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Luiz Carlos Murauskas - 1º.abr.2015/Folhapress Alunos no pátio da Etec Tiquatira, na Penha, zona leste

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