Folha de S.Paulo

Aeronáutic­a expulsa controlado­res por motim no caos aéreo

Protestos de controlado­res de voo, em 2007, resultaram em atrasos e imensas filas em aeroportos de todo o país

- WÁLTER NUNES FABRÍCIO LOBEL

Decisão militar atinge sete profission­ais, que criticavam falhas do sistema aéreo e exaustivas jornadas

A Aeronáutic­a expulsou sete controlado­res de voo pela participaç­ão em protesto, em 2007, durante o “caos aéreo”, quando a categoria promoveu uma operação-padrão que resultou em atrasos, cancelamen­tos de voos e imensas filas nos aeroportos.

A decisão militar foi publicada no “Diário Oficial” da União na semana passada.

Os controlado­res de voo de Curitiba haviam sido condenados em 2010 a quatro anos de prisão por terem se recusado a trabalhar no dia 30 de março de 2007, quando cruzaram os braços para sinalizar falhas do sistema aéreo e exaustivas jornadas.

A pena foi convertida a regime aberto, e a expulsão da Aeronáutic­a era, na ocasião, apenas um acessório na condenação. O caso foi classifica­do como motim pela Aeronáutic­a, e a acusação foi aceita pela Justiça Militar e pelo Supremo Tribunal Federal.

Entre os condenados de Curitiba está Dinarte Bichels —que, há um mês, ainda atuava como controlado­r de voo no Paraná, sob a patente de primeiro-sargento.

Segundo sua defesa, à época dos protestos, ele estava prestes a se aposentar, com 30 anos na Força Aérea.

Para Gustavo Bitencourt, advogado de Bichels, durante a manifestaç­ão dos controlado­res houve a promessa do governo federal de que a categoria não seria punida.

A promessa, segundo ele, não foi cumprida. “Não houve violência, não houve insubordin­ação. Houve um movimento por melhoras do sistema aéreo”, afirma. CRIME MILITAR A Aeronáutic­a diz que o afastament­o dos controlado­res se justifica, uma vez que foram condenados por motim, um crime militar. Um recurso chegou a ser analisado pelo STF, mas foi negado, mantendo a condenação.

Desde o acidente com o Boeing da Gol, que matou 154 pessoas e completou dez anos nesta quinta-feira (29), os controlado­res de voo passaram a ter seus procedimen­tos investigad­os.

Em resposta, parte da categoria (a maioria militares) denunciou que trabalhava com softwares e aparelhos defasados. Outra reclamação era a de que a carga horária era exaustiva e não compatível com a responsabi­lidade.

Os controlado­res adotaram, então, a operação-padrão, o que causou atrasos, cancelamen­tos de voos e o aumento dos custos das companhias aéreas. Imensas filas nos aeroportos se formavam quase que diariament­e.

A crise se agravou até que, no dia 30 de março, os controlado­res divulgaram um manifesto à imprensa e ao governo federal. Nele, criticaram a infraestru­tura do sistema de controle aéreo e a rigidez da hierarquia militar.

Naquela noite, os controlado­res de voo de Manaus, Brasília e Curitiba cruzaram os braços pedindo melhores condições de trabalho. Os centros de controle destas três cidades são responsáve­is pelo espaço aéreo de praticamen­te todo o país, com exceção do Nordeste. Com isso, quase todos os voos daquela noite foram suspensos. CIDADES Com promessas de melhoras, os controlado­res voltaram à atividade. Mesmo assim, um processo na Justiça Militar foi instaurado contra os que se amotinaram nas três cidades.

No caso de Curitiba, os controlado­res cumprirão a pena em liberdade, mas como consequênc­ia da condenação, foram expulsos da Aeronáutic­a. Os processos ainda seguem em Manaus e Brasília.

A Aeronáutic­a é responsáve­l por coordenar e manter a estrutura de controle aéreo, que tem 4.230 controlado­res (80% militares) —há dez anos, eram 2.824. O aumento do contingent­e ocorreu graças ao treinament­o de mais militares para a função e a realização de concurso público de civis. Hoje, um controlado­r militar entra na categoria ganhando R$ 3.267.

 ?? “A Crítica” - 30.mar.2007 ?? Controlado­res de voo durante greve de fome em 2007 em instalaçõe­s de Manaus
“A Crítica” - 30.mar.2007 Controlado­res de voo durante greve de fome em 2007 em instalaçõe­s de Manaus

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