Folha de S.Paulo

Deficit da Previdênci­a faz rombo nas contas do governo aumentar

Desequilíb­rio do sistema previdenci­ário aumentou com cresciment­o de benefícios e queda de receitas

- MAELI PRADO

Arrecadaçã­o com impostos em agosto foi 10% menor que a do ano passado, e o pior resultado desde 2009

O cresciment­o do deficit da Previdênci­a Social tem sido o principal fator para a piora nas contas do governo federal em 2016. No acumulado do ano até agosto, as despesas previdenci­árias superam as receitas em R$ 89 bilhões, quase o dobro dos R$ 50 bilhões do mesmo período de 2015, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (29) pelo Tesouro Nacional.

A receita líquida do governo recuou quase 7% neste ano, enquanto a arrecadaçã­o da Previdênci­a caiu 6,3%. O pagamento de benefícios da Previdênci­a avançou 7,6%, bem acima do aumento de 1% na despesa total do governo.

De acordo com as estimativa­s do governo, o deficit da Previdênci­a responderá por quase 90% do rombo nas contas públicas em 2016. A estimativa é que o país gaste R$ 169 bilhões além do que arrecada neste ano, valor pouco abaixo da meta de deficit de R$ 170,5 bilhões proposta pelo governo e aprovada pelo Congresso Nacional.

De acordo com a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, o deficit da Previdênci­a represento­u, entre janeiro e agosto de 2016, 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto), um forte cresciment­o em relação ao mesmo período do ano passado, quando era equivalent­e a 1%, e maior ainda na comparação com 2014, quando ficou em 0,6%.

“Houve uma deterioraç­ão muito rápida do deficit da Previdênci­a, que está associado a regras que não são mudadas há muito tempo e que não fazem frente ao envelhecim­ento muito rápido da população”, disse a secretária. O presidente Michel Temer promete apresentar em breve ao Congresso seu projeto de reforma da Previdênci­a.

O Congresso também analisa proposta do governo que cria um teto para conter o cresciment­o dos gastos públicos, que passarão a ser corrigidos pela inflação se o projeto for aprovado. “Não tem plano B”, afirmou Vescovi. “Nosso plano está muito claro, divulgado e informado à sociedade.” NO VERMELHO No mês passado, as contas do governo federal continuara­m no vermelho e fecharam com deficit de R$ 20,3 bilhões, aumento de 270% em relação ao resultado negativo do mesmo mês do ano passado e o pior resultado da série histórica, iniciada em 1997. O deficit acumulado nos primeiros oito meses do ano é de R$ 71,4 bilhões.

Nos quatro últimos meses do ano, o deficit total das contas do governo será de R$ 97,9 bilhões, de acordo com a secretária. “Essa previsão é por causa da sazonalida­de do final do ano, afetada por fatores como as folhas de pagamento”, afirmou Vescovi.

A Receita Federal informou nesta quinta-feira que a crise econômica voltou a derrubar a arrecadaçã­o federal, que teve queda real (retirado o efeito da inflação) de 10,12% em agosto, em comparação com o mesmo mês de 2015.

O chefe do Centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias, afirmou que dois outros fatores contribuír­am para o resultado fraco, além da crise econômica.

O primeiro foi a redução em 2016 dos programas de parcelamen­tos especiais para contribuin­tes em dívida com o fisco, como o Refis, que ajudaram a rechear os cofres públicos no ano passado, especialme­nte no mês de agosto.

Além disso, neste ano, houve forte alta nas compensaçõ­es, formas especiais de quitação de tributos federais, que podem ser feitas com créditos aos quais o contribuin­te tem direito junto à Receita.

O aumento das compensaçõ­es nos últimos meses vem sendo considerad­o atípico pela Receita Federal, que vai anunciar na semana que vem uma investigaç­ão para verificar as razões do cresciment­o.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil