Folha de S.Paulo

Mudança no teto abre espaço para mais gastos

Ajuste foi feito por relator na Câmara dos Deputados com aval da Fazenda

- VALDO CRUZ LAÍS ALEGRETTI

Ideia é corrigir despesa pelo IPCA acumulado atéjunho,queémaior do que o índice usado no Orçamento de 2017

Uma mudança feita com o aval do Ministério da Fazenda na proposta de teto dos gastos públicos abre caminho para que as despesas do governo federal no próximo ano sejam maiores do que as previstas no Orçamento enviado ao Congresso no fim de agosto.

A mudança prevê que, com a criação do teto, as despesas do governo federal serão corrigidas pela inflação acumulada em 12 meses até junho do ano anterior. A proposta original do governo era fazer a correção pela previsão da inflação para o fim do ano.

A mudança foi incluída pelo deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), com a concordânc­ia da Fazenda, no relatório que ele prepara sobre a proposta de teto dos gastos, que ele deve apresentar na próxima semana à comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa o tema.

A princípio, o governo diz que não pretende alterar o projeto de Orçamento da União de 2017, que ainda precisa ser analisado pelo Congresso e prevê correção das despesas em 7,2%, a expectativ­a para a inflação deste ano.

Se a mudança já estivesse em vigor, a correção seria maior, já que o IPCA, o índice oficial da inflação no país, ficou em 8,8% até junho. A tendência da inflação é de queda nos próximos meses.

Nada impede, porém, que os parlamenta­res alterem a correção durante a discussão do Orçamento. Se isso ocorrer, os gastos podem subir em 1,6 ponto porcentual a mais. DETALHE A mudança foi feita para evitar a necessidad­e de correções posteriore­s do Orçamento. Afinal, a ideia anterior era que as despesas seriam corrigidas pela previsão de inflação do fim do ano. Se o IPCA ficasse maior, a correção dos gastos ficaria defasada. Se fosse menor, os gastos teriam de ser reduzidos em relação à previsão original.

No Ministério da Fazenda, a avaliação é que, quando a inflação voltar para perto do centro da meta oficial, de 4,5%, essa mudança será um detalhe. Enquanto isso não ocorrer, a inflação medida em 12 meses até junho pode continuar a superar a inflação prevista para o ano-calendário.

Perondi e integrante­s da equipe econômica e da consultori­a técnica da Câmara estão fazendo ajustes de redação para eliminar dúvidas de interpreta­ção no projeto. “Estamos melhorando a redação, acabando com algumas brechas que poderiam ser usadas”, disse Perondi.

Uma dessas brechas é relacionad­a às despesas federais não incluídas no Orçamento, que também terão de seguir o teto para cresciment­o dos gastos. Entre elas, está a fabricação de cédulas e moedas.

O governo quer deixar claro também que algumas operações financeira­s e de transferên­cias constituci­onais, envolvendo verbas para a educação, ficarão fora do teto.

Na nova versão, ficará claro que esses gastos, que atingem cerca de R$ 45 bilhões, estarão de fora do limite. É o caso dos recursos que vão para o FIES (Fundo de Financiame­nto Estudantil), o programa que financia o pagamento de mensalidad­e em faculdades particular­es, que soma R$ 15 bilhões neste ano.

Também não haverá impacto para a verba do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvi­mento da Educação Básica e de Valorizaçã­o dos Profission­ais da Educação), gresso uma nova proposta de emenda constituci­onal para limitar o cresciment­o dos gastos públicas nos Estados. O governo excluiu os Estados do teto criado para o governo federal para facilitar a aprovação da proposta no Congresso Nacional.

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