Folha de S.Paulo

O imposto secreto de 2017

- VINICIUS TORRES FREIRE

DE ONDE VAI sair o dinheiro para o governo não bater a cabeça no “teto” em 2017? O “teto”, como se sabe, é o congelamen­to das despesas federais a partir do ano que vem. Mesmo que a receita cresça, a despesa estará limitada.

É difícil imaginar alternativ­a que não seja o fim de boa parte das “desoneraçõ­es” previdenci­árias (redução das contribuiç­ões das empresas para o INSS). Na prática, tratase de um cancelamen­to de despesa.

É difícil de imaginar alternativ­a, admite-se também no governo. Tanto que os estudos para as “reoneraçõe­s” já estão em curso, como adiantou esta Folha na segunda-feira.

As muitas dúvidas e as opções limitadas de ação ficaram mais evidentes com o balanço das contas federais de dois terços do ano, divulgado ontem. Há dois aumentos de despesas praticamen­te contratado­s e grandes para o ano que vem: Previdênci­a e reajustes já concedidos para o funcionali­smo.

Em um ano, as despesas da Previdênci­a aumentaram cerca de R$ 26 bilhões (em termos reais, descontada a inflação; despesa acumulada nos 12 meses contados até agosto). Seria temerário imaginar cresciment­o menor no ano que vem.

Em 2017, paga-se parte dos reajustes dos servidores federais. A depender do que sair para o Judiciário, o aumento de despesa fica entre R$ 20 bilhões e R$ 24 bilhões.

O governo, porém, deve contar com uma folga. O limite da despesa deve aumentar no ano que vem. Pela regra do “teto”, a despesa pode crescer apenas no ritmo da inflação do ano anterior (em termos reais, pois, não cresce). Mas a inflação de 2017 deve ser menor que a de 2016, o que deve permitir um gasto adicional de 2,6%.

Em dinheiro, isso deve dar um extra de uns R$ 30 bilhões. Não cobre a explosão dos gastos da Previdênci­a e a despesa extra com o funcionali­smo, entre uns R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões a mais.

Note-se que se está tratando aqui apenas de despesa, não de deficits. A receita da Previdênci­a pode crescer, com o arrefecime­nto da recessão. Assim, o deficit pode talvez cair. Mas o problema é a limitação geral da despesa: se a despesa previdenci­ária cresce, outro gasto precisa ser arrochado.

Onde vai ser o arrocho, nem tão grande assim, dado o tamanho do desastre fiscal brasileiro? Investimen­to em “obras”? Anda pela casa de parcos R$ 46 bilhões ao ano, sendo um terço disso para o programa Minha Casa, Minha Vida.

Por falar em deficit, o governo de qualquer modo ainda tem uma meta de deficit primário (receita menos despesa, afora gastos com juros), além de em tese ter de cumprir o “teto”.

A despesa estaria congelada, mas qual será a receita? Até agosto, estava caindo ao ritmo de 7,2% ao ano; em dinheiro, quase R$ 86 bilhões, três Bolsas Família.

Caso não venha um milagre do cresciment­o da receita, no mesmo ritmo da alta do PIB estimada para 2017, não haverá alternativ­a a aumento de imposto.

Nota, memorando: o deficit previdenci­ário (INSS) está em R$ 133,4 bilhões ao ano. Faz um ano, era de R$ 76,5 bilhões. Em agosto de 2013, de R$ 58,9 bilhões (dados ajustados para a inflação). A explosão atômica além da conta normalment­e explosiva normal se deve à recessão. A despesa do INSS leva 41% do gasto federal total. vinicius.torres@grupofolha.com.br

Despesa extra com pessoal e Previdênci­a deve impor fim de ‘desoneraçõ­es’ para empresas

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