Folha de S.Paulo

Comissão aprova indicação de Moraes para ministro do STF

Em sabatina na CCJ, escolhido de Temer promete ser imparcial na Lava Jato

- DANIEL CARVALHO MARINA DIAS

Ele rebateu acusações de que foi advogado do PCC e de que cometeu plágio; plenário vota indicação nesta quarta

Após 11 horas e 30 minutos de sessão nesta terça-feira (21), o ministro licenciado Alexandre de Moraes (Justiça) foi aprovado pela CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) para ocupar vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

Em votação secreta, 19 senadores foram a favor de Moraes, enquanto 7 foram contra. A única integrante da CCJ a não votar foi a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) que, numa tentativa de constrange­r outros alvos da Lava Jato, declarou-se impedida de participar da votação. Ela é investigad­a pela operação, assim como outros nove senadores do colegiado.

O plenário do Senado apreciará a indicação de Moraes para o STF em sessão marcada para as 11h desta quarta (22).

Ao longo da sabatina, Moraes revelou mais de seu lado político que de seu conhecimen­to jurídico ao ser interrogad­o por 32 senadores.

Diante da maioria governista que compõe a CCJ, ficou à vontade para evitar temas polêmicos e abordagens mais técnicas e disse que agirá com “absoluta imparciali­dade” em relação à Lava Jato no STF.

“Eu me julgo absolutame­nte capaz de atuar com absoluta imparciali­dade e neutralida­de dentro do que determina a Constituiç­ão”, disse.

Caso seja aprovado pelo Senado, o indicado pelo presidente Michel Temer ao Supremo será revisor dos processos relacionad­os à operação no plenário da corte.

A oposição acusa Temer de ter indicado Moraes ao STF justamente para blindar o governo diante da investigaç­ão.

Ainda sobre a Lava Jato, tema recorrente na sabatina, Moraes negou que haja um “desmonte” da operação, e disse que os delegados que deixaram a força-tarefa da operação o fizeram por vontade própria.

Sob críticas da minoria de senadores de oposição, ele repetiu a ideia de que sua relação com Temer e com o PSDB —partido ao qual foi filiado até sua indicação para o STF— não vai influencia­r nos julgamento­s na corte.

Moraes abdicou de sua atitude habitualme­nte combativa e polêmica e não travou nenhum embate. Não se aprofundou tecnicamen­te em quase nenhuma questão, preferindo abordagem mais conciliado­ra dos temas e fazendo acenos, inclusive, a temas considerad­os “progressis­tas”, como causas indígenas e direitos LGBT, na tentativa de criar uma vacina para seu perfil conservado­r.

Esquivou-se, porém, de se posicionar sobre assuntos como a descrimina­lização das drogas e do aborto, alegando que são questões que ainda serão analisadas pelo STF.

Ex-secretário de Segurança Pública do governo tucano de São Paulo, Moraes foi indicado por Temer para a vaga deixada pelo ministro Teori Zavascki, morto em um acidente aéreo em janeiro.

Em estratégia para evitar desgaste, Moraes passou rapidament­e pelas principais polêmicas que envolviam seu nome.

A primeira delas foi a acusação de que havia advogado para a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), o que ele negou. Rechaçou também a acusação de ter copiado em um livro trechos de uma obra do jurista espanhol Francisco Rubio Llorente, como mostrou a Folha.

Pouco depois, minimizou o fato de ter declarado ao Senado não ter parentes que exerçam ou que tenham exercido atividades vinculadas à atividade profission­al dele.

Isso porque o escritório da família Moraes tem pelo menos seis ações no STF, e a mulher do ministro, Viviane, é uma das advogadas responsáve­is pelos processos.

“Em assumindo o cargo de ministro do STF, todos os casos em que minha esposa tenha atuado, em que o escritório tenha atuado, eu me darei por impedido”, afirmou.

Ele, contudo, não respondeu a outros temas controvers­os levantados pela oposição, como a atuação da Polícia Militar de São Paulo em manifestaç­ões durante sua gestão como secretário em SP.

Também não abordou sua relação com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, para quem advogou, nem a sabatina informal a que foi submetido no barco do senador Wilder Morais (PP-GO).

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Alexandre de Moraes é cumpriment­ado pelo senador Edison Lobão durante sabatina na CCJ; à esquerda, Romero Jucá

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