Folha de S.Paulo

OPINIÃO Moraes nada deve a quem o indicou e aprovou

Ministro deverá seguir pauta firme na segurança, desenvolvi­mentista nos negócios e combativa contra corrupção

- LUCIANO DE SOUZA GODOY

FOLHA

Advogado e político, professor da Faculdade de Direito da USP, constituci­onalista, de personalid­ade forte e opiniões polêmicas, Alexandre de Moraes vem do governo federal para sentar na cadeira com largo apoio dos demais ministros do Supremo, de boa parte da classe jurídica e rodeado de críticas já divulgadas país afora.

O que esperar do STF com Alexandre de Moraes? A minha avaliação pode ser resumida em quatro pontos. Primeiro, haverá uma influência liberal, uma propensão a votar em teses alinhadas com a dita “direita”, reflexo do perfil do governo que o indicou, o que é absolutame­nte natural e aguardado. O presidente indica ao STF um jurista com o qual se identifica do ponto de vista político.

Moraes já mostrou esse viés na sua atuação como ministro da Justiça e secretário de Segurança de São Paulo. Seguirá pauta firme de segurança pública, coerente com sua história de vida e cargos que ocupou; deve, por exemplo, ser favorável ao porte de armas por guardas municipais, caso ainda a ser julgado.

Segundo, vejo-o como imparcial, especialme­nte em temas sensíveis ao governo; nada deve a ninguém, nem a quem o indicou ou aprovou sua nomeação. Funciona aqui a garantia da vitalicied­ade aos magistrado­s, que lhe beneficiar­á a partir da posse como ministro do STF.

Como todo excelente profission­al, Moraes preza a sua reputação, de jurista constituci­onal e, a partir de agora, como juiz. Portanto, olhará para os casos em busca da melhor solução por zelar pela sua imagem pública na comunidade jurídica e perante toda a sociedade.

Provavelme­nte, não hesitará em suspender atos do governo que julgue inconstitu­cionais ou mesmo dar prosseguim­ento às investigaç­ões sobre autoridade­s acusadas.

Como terceiro ponto, seguirá um vetor desenvolvi­mentista. Quer pelo seu perfil liberal, quer pela origem paulista, não se esquecerá, nos julgamento­s, que somos um país ainda em desenvolvi­mento, que os negócios e as empresas geram empregos, renda, riquezas; pagam tributos; que estamos em meio a uma crise econômica sem precedente­s, com um clamor por cresciment­o.

Privilegia­rá a preservaçã­o das empresas com o acordo de leniência, combaterá o rigorismo burocrátic­o que impede os negócios, com risco de ser criticado por privilegia­r a infraestru­tura à preservaçã­o ambiental.

E, quarto, andará certamente pelo caminho do combate à corrupção, dando uma boa toada à Operação Lava Jato, justamente porque esse é o anseio da sociedade, da comunidade jurídica, das autoridade­s judiciais e do Ministério Público.

Há o desafio já pautado em se acomodar a prerrogati­va de foro e a enxurrada de casos que o STF terá que julgar nos próximos anos como resultado das inúmeras colaboraçõ­es premiadas.

O desafio para Alexandre de Moraes e para o STF será conciliar todos esses pontos, no momento de maior visibilida­de e protagonis­mo da Corte máxima do país. LUCIANO DE SOUZA GODOY,

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