Líder de ação que matou Jean Charles chefiará polícia
Envolvida na morte de brasileiro, Cressida Dick vai comandar Scotland Yard
Eletricista foi baleado sete vezes na cabeça em julho de 2005 em Londres; família recebe decisão com indignação
Cressida Dick, 56, policial envolvida na operação em que o brasileiro Jean Charles de Menezes foi morto, será a nova comandante da Scotland Yard, a polícia metropolitana da capital britânica.
Primeira mulher a ocupar o cargo policial mais alto do Reino Unido em 188 anos de história, ela substituirá Bernard Hogan-Howe, e terá salário anual de cerca de R$ 1 milhão.
Jean Charles foi morto por engano por policiais na estação de metrô Stockwell, no sul de Londres, em 22 de julho de 2005. Ele tinha 27 anos. Cressida estava no comando da operação naquele dia.
O eletricista brasileiro havia sido identificado de maneira equivocada como sendo Osman Hussain, suspeito de tentar, sem sucesso, realizar um ataque terrorista na véspera. Ambos moravam no mesmo conjunto habitacional.
A morte ocorreu duas semanas após os atentados a bomba no metrô londrino, que deixaram 52 mortos.
Jean Charles foi baleado sete vezes na cabeça. O caso teve ampla repercussão à época, mas Cressida foi inocentada em um inquérito. A Sco- tland Yard foi multada.
Após um posterior recurso, a Corte Europeia de Direitos Humanos respaldou, em 2016, a decisão britânica de não acusar criminalmente os policiais envolvidos na ação.
A família de Jean Charles publicou uma nota expressando preocupação com a promoção de Cressida, entendida como uma mensagem de que policiais podem atuar de maneira impune.
“A impressão que dá é de que, para o governo, ela fez um bom trabalho ao matar meu primo”, diz à Folha Patrícia Armani da Silva, parente de Jean Charles. “Ela foi promovida até o topo.”
A família recebeu a nomeação de Cressida com “indignação”, afirma, após seu “terrível erro”. “Ela não é adequada para comandar a polícia, com tanto poder.”
Silva, no entanto, diz não ter planos de contestar a decisão do governo. Também não há previsão de protestos. TERRORISMO A polícia metropolitana de Londres atua em território nacional, com responsabilidades também em operações de combate ao terrorismo.
O cargo é especialmente sensível em anos de alerta a possíveis atentados da facção terrorista Estado Islâmico, como o massacre que deixou 130 mortos em Paris em novembro de 2015.
O momento torna a nomeação de Cressida ainda mais preocupante, diz a prima de Jean Charles. No caso de um novo ataque terrorista em Londres, pergunta, “mais alguém do público vai pagar? Mais alguém vai levar sete tiros na cabeça por engano?”. PREFEITO