Folha de S.Paulo

Consumidor ainda não sente juro menor

Com novo corte da taxa básica de juros, bancos voltaram a prometer crédito mais barato em suas principais linhas

- TÁSSIA KASTNER DANIELLE BRANT

Inadimplên­cia e economia fraca impedem que a queda da Selic seja repassada integralme­nte

Quatro meses depois que o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros da economia, os maiores bancos do país ainda não repassaram para os consumidor­es o custo menor do dinheiro.

Nesta quarta-feira (22), o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central anunciou novo corte na taxa Selic, reduzindo-a para 12,25% ao ano —mesmo patamar em que estava no início de 2015.

Mas os reflexos desse movimento ainda não foram sentidos pelos consumidor­es na contrataçã­o de novos empréstimo­s, embora os bancos tenham anunciado em janeiro e novamente nesta quarta que repassaria­m o juro menor.

Dados do Banco Central mostram que, na média, os juros continuam subindo quando comparados com outubro, quando se iniciou o atual ciclo de corte de juros.

O motivo é o aumento do risco de calotes, com o desem- prego em alta e sinais de que a recuperaçã­o da economia será lenta e pouco vigorosa.

“O custo de captação [dos bancos] cai, mas o repasse não é feito imediato, porque os bancos buscam otimizar sua margem de lucro”, diz João Augusto Salles, economista da consultori­a Lopes Filho.

Os bancos ganham com o spread, que é a diferença entre o que pagam para captar dinheiro e o que cobram para emprestar aos clientes.

No último ano, os bancos separaram fatia maior de suas receitas para se proteger contra calotes. Isso aumentou os seus custos, o que contribuiu para impedir a redução das taxas que cobram.

“Com a economia em recessão e empresas em recuperaçã­o judicial, os bancos fazem de tudo para não perder mais crédito. Se o risco de não receber aumenta, aumentam os juros de quem consegue pagar”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. PRESSÃO No último mês, três dos cinco maiores bancos do país reduziram a taxa do rotativo do cartão de crédito, em linha com a pressão do governo para reduzir o custo da linha de crédito emergencia­l, a mais cara do sistema financeiro.

Pelas regras que entram em vigor em abril, o consumidor não poderá ficar por mais de um mês no rotativo.

Outras linhas também estão no radar: o cheque especial, cujas taxas só perdem para o rotativo, é o novo alvo.

Nos bastidores, o governo diz que toma medidas para reduzir custos dos bancos, como a simplifica­ção do compulsóri­o —fatia de recursos dos clientes que as instituiçõ­es são obrigadas a depositar no Banco Central. Esse dinheiro não é remunerado.

Publicamen­te, os executivos dos bancos afirmam que isso ainda é pouco. Nesta semana, Sérgio Rial, presidente do Santander, disse que o custo dos empréstimo­s é alto porque metade do crédito no país é destinada obrigatori­amente a financiame­nto imobiliári­o e à agricultur­a, com taxas limitadas, o que impede a concorrênc­ia entre os bancos.

“Alguém determinou o que os cinco grandes bancos têm que fazer e não foram eles.”

Enquanto bancos e governo negociam, a expectativ­a é que as taxas só caiam com uma retomada da economia. “Os bancos até têm dinheiro para emprestar, mas as empresas boas não procuram crédito e as ruins não aceitam as taxas de juros”, afirma Claudio Gallina, da Fitch.

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